sexta-feira, 29 de maio de 2009

Grandeza, miséria do Brasil

Hoje, por volta das 19 horas, resolvi caminhar até o Engenho de Dentro, até um supermercado do bairro. Mesmo com o tempo nublado, resolvi contornar a avenida Lino Teixeira, passando por uma das entradas da favela do Jacaré. Este entorno é pouco iluminado, com alguns carros, uma pequena favela perto da entrada do túnel Noel Rosa e logo a frente, a favela Dois de Maio. Muitas mesas cheias na rua davam o tom de festa de sexta. Certa tensão no ar, reunião de motoristas de kombis e uma Upa no caminho. Crianças, mulheres, jovens com pequenos shorts; Lembrei por alguma razão de discuros sobre a pobreza e concluí: "mas é tão óbvio que estas pessoas não podem ser julgadas por viverem aqui ou pelo que fazem aqui". E tanto já se escreveu sobre isto... Mesmo assim, o discurso que afirma de maneiras diversas, que o pobre é pobre por que quer, segue presente nas justificativas de muitos. Faço a crítica, não apenas porque eu tenha uma formação humanista, não foi um pensamento cristão, nem religioso. Foi simplesmente um raciocínio ECONÔMICO. É estranho que bons amigos meus, acreditem após terem cursado ensino superior, que tratamos aqui de opção. Não é preciso ser de esquerda para compreender o óbvio que de tão solar, cega: estamos falando de concentração brutal de renda meus caros amigos. Qual o problema em simplesmente para r com a tese da culpa aos pobres? Qual o problema em encarar a histórica EXPROPRIAÇÃO feita em nosso país, sobre os negros, sobre os nordestinos? O que há de tão grave em reconhecer estas fatos?
Creio que a negação destas verdades é o que possibilita que se possa viver mais tranqüilamente, aceitando que a caridade é o limite das possibilidades alheias. Ou quem sabe dando algum tipo de justificativa sobre "vidas passadas". Ou quem sabe ainda, o que é mais comum, tomando-se como a principal medida do mérito que berra para o mundo "mas eu consegui"!E acusa tal qual juiz impiedoso todos os outros.
Que lamentável é ver esta gente mergulhada em uma ignorãncia típica dos piores tempos da idade média. Sim meus amigos, porque se quisermos dizer que a ciência, a racionalidade que tanto prezamos serve para algo, precisaremos abandonar estas justificativas obscurantistas.
Minutos depois de chegar em casa, o som das balas demarca a caída final da noite.
Ligo a televisão e resolvo escrever esta postagem porque em um destes acasos que dá corpo aos nossos argumentos, ouço " Chovendo na roseira" de Tom Jobim, Uma das composições mais fantásticas do mundo. É, do mundo todo, tanto quanto Miles Davis, Gardel, Bob Marley, Eric Clapton.... e oriente e Ásia, e o que não conheço. Uma composição arrebatadora porque traduz em melodia o ritmo rápido, suspenso no ar de um beija-flor, traduz a chuva, o amor que se perde entre as gotas de chuva, as manhâs que celebramos. Chovendo na Roseira deveria ser música obrigatória no ensino fundamental para que as crinças possam entender a grandeza de um país.
Para que elas possam voar sobre a miséria que as explora em propagandas, internet, trabalho, violências.
Mostrem aos seus filhos a letra de Chovendo na Roseira, para que possam entender o quanto é ilusória a crença de que vivemos em um país pobre. Não somos pobres e nunca fomos.

Um comentário:

  1. Luciane, sua crônica me fez lembrar de uma charge que li quando ainda era adolescente (início dos anos 1960).

    Uma limusine passado por uma das avenidas de nova Iorque; na calçada, mendigos se aquecem no fogo que sai de dentro de um tambor de lixo; sobre a limusine, um baloom com a fala do magnata que o ocupa:

    - Não sei porque eles preferem viver desse jeito!

    Tenha um final de semana pleno de paz, mesmo que ao som de raaaatatata!

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