sábado, 29 de outubro de 2011

A SOCIALITE E O USINEIRO




De jatinho sobre o Mato Grosso
Vem seu príncipe de mau gosto
Embalado pelo trabalho escravo
Será clicado na noite paulistana
Vestindo Terno Ricardo Almeida
Jantando no Chez Nohad nos Jardins

Vestido de noiva com bordado de pérolas
Ao meio dia, só para os amigos
De tudo o melhor pescado
Tudo doce, enjoativo
Buquê de três mil reais
Sapato com fios de ouro

Lá vem o usineiro Bisneto
E a socialite apaixonada
Lá vem sua mãe toda de azul,
Rindo como pirata que encontra tesouro

E ao cortar o bolo...
Jorra caldo de cana vermelho
Pedaços de mãos e olhos saltam
Sobre a platéia horrorizada

Gritam pelos empregados
Mas ninguém aparece
As mulheres rolam pelo chão, fugindo da festa
E o casal desesperado,
Envolvido pela substância doce e vermelha,
Despenca sobre a mesa de doces finos
Lá vem o usineiro e a socialite.
  

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O ESTUDIOSO DE ENGUIAS


A pedra
A musa
A falta         
Não dita
O desejo
Invenção dos sonhos,
Solidão coroada pelos santos

Ele me punia porque me vendo sorrir
Achava meu sorriso excessivo
E gritava ao mundo
Que sua beleza era a palavra
E que meu exagero destruía seu apetite

Era tudo tão rápido
Como um espirro
Um aperto de mão entre atletas rivais
O olhar de um poeta para a tela vazia

Era tudo tão rápido
Que eu já nem sabia o que era
Se ficasse, seria musa?
Se partisse, seria Maria?

Mais uma vez nas escadas
Na mesma lama dos sonhos
Mais uma vez, e agora ainda mais tarde
A pedra
A falta
Não dita

NÉVOA


E por dias você pode ter esperado,
Com as melhores rosas, sobre a montanha
O corpo varrido por fantasias
De encontro e movimentos doces

Por dias, esperando um barco
Avermelhado
De cores fortes
A toda aquela força
Seria sua tempestade

Nem memória
Nem dor
Nem espada
Nem sonho

Nenhum dos desejos
Cansada
Morta
Triste
Torta
Esquece

E ergue outra história