sábado, 9 de maio de 2009

Brasileiros em Portugal, portugueses na França

Em um restaurante português na Tijuca, numa quarta de outono, compartilho no salão, com uma mesa de conhecedores da cultura portuguesa, que assistem a um jogo de futebol. O dono está entre eles e conta animadamente em tom de comparação, sua viagem à Barcelona realizada meses atrás. Não era minha intenção, prestar maior atenção naquela coversa. Mas havia saído de uma aula, onde discutimos um texto de Antonio Firmino da Costa sobre uma festa popular em Barrancos, na região do Alentejo. O que chamava atenção no texto, era sua descrição dos fluxos migratórios. Conforme o autor, a dinãmica da imigração a partir da África, Brasil e leste europeu era uma tônica em Portugal. Conheci muitos portugueses no mês em que estive na França. O primeiro trabalhava na portaria da casa de estudantes Lucien Paye que fica na Cité Universitaire em Paris, o segundo, era atendente em uma lan house, o terceiro, bilheteiro de metrô, e assim por diante. Lembrei disto ao vê-lo falar do primor que era Barcelona. Como as cidades crescem e se desnvolvem? Que mão de obra as sustenta para que brilhem na qualidade dos serviços prestados?
Lembrei ao mesmo tempo, das tradições alemãs e italianas do sul do país e segui com uma reflexão sobre cultura dinâmica e a invenção das tradições da qual fala Hobsbawn. Em aula, havíamos discutido sobre o fato de que portugueses trabalham em postos precarizados na França e brasileiros trabalham em postos precarizados em Portugal. Mas a representção dos brasielrios, feitas pelos portugueses que conheço no Rio de Janeiro, é outra. Lembro de um taxista português comparando Rio de Janeiro e Lisboa: reclamava das "caixinhas" que haviam aqui, entusiasmado com o programa de Gugu Liberato que dava condições aos nordestinos, de voltarem para sua terra.
É sempre curioso ver como certos grupos e indivíduos mantêm sua identidade a partir de representações; a) em relação ao lugar que ocupam no país, como ser dono de um restauirante na Tijuca e reclamar das condições de vida ofertadas aqui; b) em relação aos seu grupo, cujos valores morais são distintivos - valor do trabalho, família ordem; c) na possibilidade de apresentar-se como parte de uma civilização superior, a européia, acessando memórias de viagem, parentes que lá residem, filhos que lá estão ou estudam, etc..ou seja, relações de proximidade.
Termino a postagem com esta cena: Uma informação na televisão, remete à um fato que ocorreu no interior do Ceará. Entre goles de vinho tinto, comentam que se o Ceará já é interior, imagine o interior do Ceará. Riem muito e com explicíto deboche. Segundos depois, vem servi-los Durval, o único garçom no restaurante vazio, um garçom, que me revelou depois, vem da " terrinha", ou seja, do Ceará para onde pretende voltar e viver sua velhice.

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