sábado, 2 de maio de 2009

De Jacaré pela Lagoa

Como a idéia deste blog é pensar a cidade e suas interações. hoje registro um ponto que sempre me chamou atençâo: a diferença dos normalmente classificados " meninos de rua" na cidade do Rio de Janeiro e na cidade de Porto Alegre. Se a segunda, menor (mais ou menos um milhão de habitantes) tem uma população muito menor de meninos que vivem na rua, a primeira é uma das capitais mais populosas da América Latina (5.851.914 habitantes). Bem, se fossem apenas números... mas temos as formas de ocupação, colonização de cada uma delas. O Rio de Janeiro, não é segredo, teve desde sempre uma ocupação de portugueses e mais tarde negros escravos entre tantos outros. Também não é segredo que não houve política pública de inserção desta população no período da abolição da escravatura. O lugar ocupado por esta população? Primeiramente os cortiços. depois as favelas. Quem transita pela cidade hioje, ano de 2009 entende que a negociação é condição essencial para realização de algumas tarefas, No caso de nossa história de hoje, e aí está a diferença entre as duas cidades, o motorista é uma autoridade. em constante prova na direção de seu "carro". O transporte público de Porto Alegre é bastante organizado, não há espaço para plasticidade e negociação. Os pontos são pontos de parada e não mais a frente, mais atrás ou na esquina da Duvivier. Não há bate-papo, o motorista não solta piadas para quem entra.
A pressão exercida pelos moradores de favela estabelece uma dinâmica muito particular, principalmente nas áreas que passam ou terminam em favelas, como é o caso da linha 4740-Jacaré e 629- Irajá. Além de dirigir, cobrar, liberar a roleta, o motorista tem de negociar com os meninos que pedem carona. Se proibidos, podem ocorrer pedras em direção ao ônibus ou então, entram pela janela. Querem ir à praia, Copacabana, centro. Não há imperativo categórico que moralize esta dinâmica. E há uma gradação de freqüentadores que vai desde pessoas que de fato moram na rua, até trabalhadores que pedem carona utilizando o termo " abençoado". E ainda temos os que contam que foram roubados na rodoviária Novo Rio e não conseguem voltar para sua cidade. Estas viagens sempre são carregadas de negociações. Podemos ver uma dama da lotação que fará o motorista parar tudo por cinco minutos só para ouvi-la marcar um encontro na Feira da Sâo Cristóvão. E existem as batidas cotidianas na área próxima da rodoviária, agressivas e desacreditadas, feitas pela policia militar geralmente às 16:00 horas. Sempre acho muito irônica a expressão "200 anos, sempre com você" . No Rio, isto não suscita nenhuma sensação de seguranças. O efeito pode ser contrário na verdade.
O fato é que a presença da favela na cidade, obriga - contra todos os choques de ordem desde o século XIX, o Bota Abaixo...a negociação. E existem parâmetros para avaliação: humildade de quem pede, generosidade de quem dá a carona, aceitação de quem sabe que estas áreas têm esta marca.
As interações face a face são marcadas por tantas assimetrias sutis que me dedicarei a descrever algumas delas nos próximos dias.

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