Iolanda
não, não, ela não poderá ser chamada assim.
E por que não?
Precisamos de um nome forte, mas que traduza as fragilidades femininas....
Certo, obviamente Helena...
Claro que não, aquela emissora registrou o nome em 2017 lembra?
Sim, e o problema é que registrou também aquela vista da praia do Girassol, não poderemos filmar o encontro das irmãs lá.
bem, teremos de fazer em estúdio com algumas tomadas antigas.
Claro, quem notará a diferença? O que importa é o impacto dramático que o encontro deve surtir no telespectador.
Disto eu já tratei. A irmã da protagonista aparecerá 10 anos mais velha, cabelos compridos e desalinhados, um olhar pesado e triste.
Cuidado, temos de levar a cena de uma forma que tudo possa ser revertido. Afinal não queremos que a irmã da protagonista cresça na trama.
Isto pode ser difícil. O público esta ansioso por saber onde ela esteve nestes cinco anos, ao aparecer, chamará atenção para si.
E se ela morresse?
Não, não podemos fazer isto, ele tem de desmascarar a outra irmã, aquela que roubou tudo de nossa .... vá lá, que seja Iolanda seu nome.
Sim, mas isto pode ser feito através de uma carta lida por Iolanda, após saber da morte da irmã;
Mas seria um sofrimento desnecessário no fim da trama.
Mas o que é necessário? Lembre-se, estamos aqui para produzir efeitos, usar imagens, capturar o público.
Não, não devemos estimular tanto estas emoções, podemos perder audiência com isto.
Errado, você tem visto o argumento das concorrentes?
Sim, de gosto duvidoso.
Que gosto? Do que estamos falando?
De nosso padrão que busca entreter, educar, fornecer recursos morais sadios para nossos telespectadores.
E quem paga tua cobertura?
Sou um escritor e não um vendedor de pasta de dente. A irmã de Iolanda fica;
Não, claro que não seria pasta de dente, suas contas só podem ser pagas com anúncios de bancos espanhóis e vocẽ sabe que eles adorariam se a irmã de Iolanda morresse.
Então que demitam toda a equipe.
Não seria preciso, mas tudo bem, que ela viva e apareça para contar tudo sobre a grande vilã. O problema é que o público se identifica muito com a vilã que você criou.
Este é um grande problema... não imaginava que uma mulher de quarenta anos, que bebe meia garrafa de uísque todo dia e despreza a própria família pudesse fazer tal sucesso. Onde errei?
Em quem vocẽ baseou esta personagem? Alguém de sua família?
Não, lembra de uma antiga história de 1990 sobre uma mulher que bebia e desprezava seus filhos?
Sim.
Exato, isto nunca saiu de minha cabeça. Pensei que no dia em que tivesse total liberdade construiria esta personagem.
Ah, sim, então esta é sua obra-pŕima! Como daremos um fim à trama?
Que tal: Iolanda sabe de toda a verdade, procura a irmã, as duas conversam sobre o passado e Iolanda percebe que sua irmã não é má, mas sempre teve inveja....
E ninguém morre.
Exato.
Não sei não, parece muito trivial mas sem uma morte o público pode perder o interesse pelo último capítulo, precisamos de uma revelação.
Podemos matar a irmã desaparecida...
Que mudança de posição repentina, o que houve?
Bem, se temos de sacrificar alguém, que seja alguém que está fora da trama há mais de dois meses.
E quando faremos isto?
Como de praxe, no penúltimo capítulo.
E como ?
Um atropelamento.
Onde?
Perto da Urca.
Sinto aquele formigamento nas mãos...snto novamente
Vamos filmar
Iolanda e suas irmãs
Uma trama urbana, intensa, surpreendente.
Sim, e no intervalo: Bancos Corazon, modernos como você.
Modernos como nossa trama;
Surpreendente.