terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Iolanda

Iolanda


  • não, não, ela não poderá ser chamada assim.

  • E por que não?

  • Precisamos de um nome forte, mas que traduza as fragilidades femininas....

  • Certo, obviamente Helena...

  • Claro que não, aquela emissora registrou o nome em 2017 lembra?

  • Sim, e o problema é que registrou também aquela vista da praia do Girassol, não poderemos filmar o encontro das irmãs lá.

  • bem, teremos de fazer em estúdio com algumas tomadas antigas.

  • Claro, quem notará a diferença? O que importa é o impacto dramático que o encontro deve surtir no telespectador.

  • Disto eu já tratei. A irmã da protagonista aparecerá 10 anos mais velha, cabelos compridos e desalinhados, um olhar pesado e triste.

  • Cuidado, temos de levar a cena de uma forma que tudo possa ser revertido. Afinal não queremos que a irmã da protagonista cresça na trama.

  • Isto pode ser difícil. O público esta ansioso por saber onde ela esteve nestes cinco anos, ao aparecer, chamará atenção para si.

  • E se ela morresse?

  • Não, não podemos fazer isto, ele tem de desmascarar a outra irmã, aquela que roubou tudo de nossa .... vá lá, que seja Iolanda seu nome.

  • Sim, mas isto pode ser feito através de uma carta lida por Iolanda, após saber da morte da irmã;

  • Mas seria um sofrimento desnecessário no fim da trama.

  • Mas o que é necessário? Lembre-se, estamos aqui para produzir efeitos, usar imagens, capturar o público.

  • Não, não devemos estimular tanto estas emoções, podemos perder audiência com isto.

  • Errado, você tem visto o argumento das concorrentes?

  • Sim, de gosto duvidoso.

  • Que gosto? Do que estamos falando?

  • De nosso padrão que busca entreter, educar, fornecer recursos morais sadios para nossos telespectadores.

  • E quem paga tua cobertura?

  • Sou um escritor e não um vendedor de pasta de dente. A irmã de Iolanda fica;

  • Não, claro que não seria pasta de dente, suas contas só podem ser pagas com anúncios de bancos espanhóis e vocẽ sabe que eles adorariam se a irmã de Iolanda morresse.

  • Então que demitam toda a equipe.

  • Não seria preciso, mas tudo bem, que ela viva e apareça para contar tudo sobre a grande vilã. O problema é que o público se identifica muito com a vilã que você criou.

  • Este é um grande problema... não imaginava que uma mulher de quarenta anos, que bebe meia garrafa de uísque todo dia e despreza a própria família pudesse fazer tal sucesso. Onde errei?

  • Em quem vocẽ baseou esta personagem? Alguém de sua família?

  • Não, lembra de uma antiga história de 1990 sobre uma mulher que bebia e desprezava seus filhos?

  • Sim.

  • Exato, isto nunca saiu de minha cabeça. Pensei que no dia em que tivesse total liberdade construiria esta personagem.

  • Ah, sim, então esta é sua obra-pŕima! Como daremos um fim à trama?

  • Que tal: Iolanda sabe de toda a verdade, procura a irmã, as duas conversam sobre o passado e Iolanda percebe que sua irmã não é má, mas sempre teve inveja....

  • E ninguém morre.

  • Exato.

  • Não sei não, parece muito trivial mas sem uma morte o público pode perder o interesse pelo último capítulo, precisamos de uma revelação.

  • Podemos matar a irmã desaparecida...

  • Que mudança de posição repentina, o que houve?

  • Bem, se temos de sacrificar alguém, que seja alguém que está fora da trama há mais de dois meses.

  • E quando faremos isto?

  • Como de praxe, no penúltimo capítulo.

  • E como ?

  • Um atropelamento.

  • Onde?

  • Perto da Urca.

  • Sinto aquele formigamento nas mãos...snto novamente

  • Vamos filmar

  • Iolanda e suas irmãs

  • Uma trama urbana, intensa, surpreendente.

  • Sim, e no intervalo: Bancos Corazon, modernos como você.

  • Modernos como nossa trama;

  • Surpreendente.