domingo, 10 de abril de 2011

Um retrato borrado não está a altura de Oscar Wilde



A complexidade do livro é transformada em uma narrativa que não ganha densidade dramática e portanto não "entramos" no filme. As opiniões de Lord Henry sobre as mulheres, retratadas como figuras superficiais, tediosas, apegadas ao passado, etc... demarca algo socialmente compartilhado e certamente, quem nos fala aqui é o próprio autor, piedoso da condição feminina. O filme não consegue nem de longe capturar a trama social onde está Dorian. “Mas você deve pensar nesta morte solitária em um camarim de mau gosto como um estranho fragmento sinistro de uma peça jacobina...” diz Lord Henry sobre a morte de Sybil, após lamentar que nenhuma mulher tenha feito o mesmo por ele. Esta atmosfera da atitude intelectualista “blasé” na qual L. Henry socializa o jovem Dorian, é perdida no filme. Pois o quadro se altera mas o personagem desfila sempre com seu sorriso de pedra. Lembrei de Eduard Norton um filme mediano, mas ótimo como entretenimento: O Ilusionista. As atuações tornam a história melhor do que ela é. Ilusões, paixões, um policial encantado com a mágica. Ótima fotografia. Mas é o avanço da trama que torna o filme digno. Em retrato de D. Gray temos o contrário. Uma grande história amassada, chapada, cortada, enfim, diminuída pela atuação dos personagens, mesmo que Lord Henry tenha uma língua afiada e nos envolva com suas tiradas.
O fato é que o uso intermitente de uma trilha sonora “exótica” e os cortes a la clip, acabam com o filme. As cenas ditas “sensuais” são mal dirigidas com um ator de olhos semi cerrados, tentando sem sucesso, mostrar enorme prazer, entre plumas, mulheres asiáticas, senhoras e mocinhas. Como tudo é feito com véus, sobreposições e movimentação rápida da câmera, você vê cenas de sexo no meio de vestidos, seios, corpos nus. Mas tudo é muito, muito higiênico e moralizado. O arrependimento de Dorian acaba com o filme, o personagem não cresce em complexidade. Parece um tolo que deu ouvidos a um homem maduro e corrompido e agora se arrepende de seus atos. O filme se arrasta, os diálogos que são o ouro de Wilde, são aqui desperdiçados e o cinismo de Harry é requentado. Sempre como um invejoso prestes e oferecer enxofre para o jovem tolo. Dorian não acontece, o filme é um arremedo.

domingo, 3 de abril de 2011

FARRAPO HUMANO DE 1946



Moralmente condenável, o alcoolismo é retaratado com um realismo único neste filme. "Tantos homens por aí com o mesmo problema, morrendo de sede, pelas ruas de N York"... Não o indivíduo mas a cidade, os desejos e a derrota. A companhia do álccol para os que não alcançaram a fama, o reconhecimento público. E são consumidos, consumindo a cidade.
Mais uma questão, para quem escreve ou busca a condição de artista (em sentido muito amplo)é o pânico da página em branco. Escrever uma tese ou um artigo: a primeira linha, a primeira página. Bloqueio, medo de reprovação, avvaliação de si mesmo. Este filme trabalha com tais questões. Billy Wilder diride The Lost Weekend e Ray Miland ganha com o filme, vários prêmios como melhor Ator. A indústria de bebidas oferece cinco milhôes de dólares para que a Paramount não realize o filme.