segunda-feira, 30 de maio de 2011

cartilhas



Tem algo nos escapando nesta história toda. E este escape é perigoso, tem favorecido tipos como Bolsonaro, contribui para aumento da violência. E apostar que o veto à cartilha é o mais grave, é deixar-se levar pelo impressionismo. ESta crença na educação para respeito e tolerância não mais me convence. É algo em que um teórico alemão como Habermas pode acreditar. Mas no Brasil, nas escolas do Rio de Janeiro ou de outros Estados, querem saber como isto acaba?
Lembrem da obrigatoriedade da História da África nas escolas e toda reação intolerante que tem gerado. Acirra o estigma sobre quem freqüenta, sobre o professor que banca a idéia, acirra os ânimos e gera perseguições.
É possível acreditar que nosso professor, na sua missão de segurar um Estado que não investe em educação, possa segurar os efeitos destas políticas? È possível cobrar dele que o faça? Sozinho na sala de aula?
É como deixar o aluno negro que entrou pelas cotas na UERJ, cair desmaiado de fome no corredor (o que houve de fato). e vir alguém dizer com todo o sarcasmo:
- Viu no que dá?
Se os movimentos sociais se enfraquecem, se dividem em disputas, deixam de estar com a base, deixarm de dialogar com instituições como a escola e se concentram em passar educação por cartilhas... o efeito daqui a um ano é o esquecimento, ou a gozação.
Eu trabalhei com formação de professores de todo o Brasil por dois anos: eles acreditam que a família heterossexual é a base da personalidade sadia. Diziam isto nas entrelinhas, mas diziam. Agitam-se os espíritos, muitos revelam seu grau elevado de intolerância.
A cartilha por si só, feita por especialistas, não tem o poder mágico de alterar absolutamente nada. E é perigoso não ver isto.
E entrar numa guerra contra a suspensão da cartilha é dar a bancada evangélica a oportunidade de ter espaço gratuito na mídia. Gente que nem sabia, apoiou a decisão. Portanto, mas do bradar, é preciso propor uma ação que não se resuma ao LAMENTAMOS MUITO...
De lamentos o país esta cheio: agricultores assassinados, ministros obscenos, universidades sem verba, desemprego mascarado de crescimento, esgoto que não chega com o PAC. E uma presidente que não sabe quando o ex-presidente chega a Brasília para apitar o governo.
Não sei se o conteúdo feito pelos especialistas é o melhor para as escolas. Esta concepção de que um especialista é o melhor profissional para isto não me convence. Em um treinamento da UERJ uma doutora em gênero do CLAM, disse
- Se a menina da favela quer ter 8 filhos, o corpo é dela, não devo legislar sobre isto.
É o tipo de relativismo que me assusta.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cidade do Fogo

E ela disse "bom dia" ao entrar na sala. Teria ensaiado o tom como se fosse um menestrel, um brâmane. Sua cabeça cheia de ideias corria por "Um estranho no ninho", parava de frente para "Sérpico" e pensava sobre tomar e sitiar aquela sala.
De óculos, observaram sua performance. As lanças escondidas sob a manga. As mulheres com punhais, sorriram cordialmente.
Solicitou apresentações, falou de suas técnicas herdadas de antigos guerreiros.
Um deles tirou o óculos e apresentou uma enorme ficha com fotos: era um dossiê sobre sua vida.
Estava nua, via a ponta dos punhais brilharem contra a luz.
Proferiu a palavra democracia, ouviu uma rajada de tiros, viu cordas e salas fechadas, ouviu cantos.
Ousou a palavra transformação, ouviu passos no corredor, ouviu uma enfermeira abrindo a porta.
Outros tiraram os óculos e gritaram: Por que?
Era 1980? Era 2001?
Era 2011.
e mais uma vez, era a sua sala.