terça-feira, 16 de junho de 2009

PARA QUE ESTE ESTADO DE COISAS CESSE

Como enquanto eu andava ouvia esta música, quando apareceu o Estado no meio da manhã e mostrou suas formas de Leviatã -
para o Leviatâ, uma canção popular, lá de Xerém
de Zeca:


Eu sou descendente zulu
Sou um soldado de ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre

Sim vou na igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum

Ogum

Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais

Ogum
Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que faz

Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz

Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão

Ogum
É quem da confiança pra uma criança virar um leão

Ogum
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração


minha racionalidade ocidental não resiste a certos chamados. E diante do horror sempre é preciso acreditar em algua justiça
Que seja a de jorge

PODERES E CHEFES DE ESTADO - NOTA RÁPIDA


Na atual geo política do Estado- nação, pensar o lugar do UM e do poder dos chefes, me parece tarefa fértil. Obama tem sido defendido por uns e desacreditado por tantos outros- ver Folha do dia 12-13-14 junho. Eleições fraudadas no Irã? Ahmadinejad nega o holocausto e proíbe observadores no processo- Lula diz que é briga de torcidas e declara que Governo Francês pagará os custos do desastre.O casal Kirchner gastou 395 milhões de pesos (cerca de US$ 125 milhões) com publicidade em 2008. E por último, Antonio Castro flerta com mulher que é homem em site de relacionamento.

Poderes e chefes de EStado....

Ontem pela manhã, dando a volta no Maracanã e ouvindo Candeia, experimentava a saborosa aproximação com o Rio. Até que uma escolta com 10 motos e 4 carros pretos cruzasse o espaço instaurando esta realidade que é o ESTADO.

Tão performático e neurótico;

por isto, sugiro Pierre Clastres para todos os próximos dias, SOCIEDADE CONTRA O ESTADO

voltarei nisto.


domingo, 7 de junho de 2009

Dança de rua para rainha da Inglaterra

Se aparentemente a postagem de hoje passa longe do que miro como objeto de pesquisa, basta olhar os componentes do grupo vencedor do Britains Got Talent e ficará simples entender. Dançarinos "de rua" fazendo uma mélange de Michael Jackson, de temas das Olimpíadas, de batidas clássicas dos anos 80... Uma coreografia, que mistura street dance com rápidas esquetes. Paródias de filmes de 007 ou Superman. Tudo dentro de um gosto pop, carregado de movimentos bem executados. Não há genialidade, não há exatamente um elemento conceitual na dança. Mas ainda assim, nos primeiros momentos, ela nos arrasta. Ali estão plasmadas virtudes adoráveis do show business: meninos talentosos, alegres, vivazes. Apresentando releituras "modernas", com doses precisas de ousadia. Nada de muito crítico. Um verdadeiro espetáculo, como conceituaria Gui Debord. O interessante além disto, é que o resultado vai confirmando uma tendência: a rua, multicultural, globalizada, "impura" e acima de tudo, ritmada. É esta a expressão globalizada por excelência. Nas ruas de N.Y, no banlieue parisiense, e lembro Wacquant falando do retorno do recalcado, nas inner city britânicas. Mesmo que as biografias destes jovens sejam virtuosas, sua inspiração de dança, vem de grupos juvenis estigmatizados e classificados como padecendo de tendências à delinqüência. Esta batida que aproxima funk, hip-hop e variações criativas será apresentada para rainha da Inglaterra, símbolo de uma nação-império. Esta é a cultura local que interessa, diria Bhabha, nascido na India, professor na Inglattera e nos EStados Unidos.
O híbrido, o deslocamento, a rachadura.
Como poderia uma cantora, tardiamente descoberta, interpretando um clássico, de forma tradicional, concorrer com o som das ruas? Este é o quadro de um multiculturalismo que entra na corrente sangüínea da industria pop. Não para tornar o mundo um lugar de "DIVERSIDADE" mas provavelmente para na medida do possível, antecipar as formas de diversidade possíveis. O que sendo paradoxal, não deixa de realizar-se.
Como reagirá a rainha diante destes jovens mestiços, filhos ou netos de súditos colonizados por seu império? Mantendo o protocolo frio que no século XX, era visto como sinônimo da mais alta distinção? Pensará ao se retirar para seus nobres aposentos, que seu tempo está chegando ao fim? Sentirá uma febre e um desejo de entregar-se as batidas ancestrais, mesmo que dezenas de milhares de tambores tenham sido queimados pela Inglaterra, assim como o fizeram também Espanha e outros impérios?
Não há como deter a dança das ruas. Mas isto não representa uma vitória triunfal. O triunfo não é da rainha, o triunfo maior não é do grupo Diversity, dançarinos adoráveis. O triunfo é do programa Britains Got Talent que com seu formato conservador no esquema "jurados, platéia e atrações de entretenimento", consegue criar celebridades, chanceladas por uma soberana poderosa e assim, ditar as regras da indústria de entretenimento.
Salve a Rainha!!! Não, não, esperemos: Salve Britains Got Talent, indicador preciso da decadência dos impérios.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para inverter o paradigma racial – e não apenas no Brasil.

Nesta manhã de junho após ler um ensaio crítico de meu amigo Francisco, sobre o desrespeito aos direitos humanos fundamentais na Vila do João, complexo da Maré, fui apanhar um pouco do sol matinal nas ruas do bairro. Acabei descobrindo uma rua nova, que ao contrário das outras tinha saída. A saída era exatamente ao lado de uma construção monumental localizada no bairro Riachuelo: O SENAI CETQTA de moda. Uma quadra que inicia na rua Cadete Polônia e se estende até minha rua na outra quadra. Com equipamentos ultra-modernos. Esta rua, cadete Polônia, dá acesso á uma favela local. Creio que a favela do rato, mas não importa o nome. Importa observar que em uma só rua, á possível perceber um grau mais visível de deterioração quanto aos cuidados urbanos. Sempre via carroças entrando por ali, assim como famílias levando colchões deixados para a Conlurb. . Assim como carros entrando em alta velocidade, completamente indevassáveis. Este quadro é o ponto da caracterização da topografia urbana da cidade do Rio de Janeiro. Acabaram de construir neste SENAI, um pequeno prédio envidraçado que gera curiosidade aos transeuntes. Vi nesta manhã, uma senhora negra, impecavelmente uniformizada, limpando as salas, como em um aquário. Pensei nas teorias evolucionistas e por alguma razão tola, tive este raciocínio: Mas quem deve evoluir deste ponto? As teorias que justificaram a escravidão e que seguem justificando políticas de Estado e discriminações de variados tipos, me parecem o indicativo mais eloqüente de que este paradigma deveria ser invertido. O processo civilizatório que firmou alguns padrões de comportamento, a partir dos quais sistematizamos parte de nossa cultura ocidental, carece disto que estou chamando de “inversão do paradigma”. A idéia não é nova. Tem sido trabalhada pelos estudos culturais, por Stuart Hall. Mas não exatamente com esta designação de “inversão”. Claro que uso a idéia de forma livre. Foi pensada nas ruas, está ainda bem fresca.

Gostaria de fechar este breve texto apresentando o conceito de cordialidade de Sérgio Buarque. Isto porque a normalidade destas relações tão desiguais me fez lembrar do problema da responsabilidade sobre o próprio destino. Penso isto não para um homem liberal, isolado, resumido primeiro a busca do lucro, depois do amor e por último da salvação eterna. Podemos inverter as duas últimas buscas. Mas não a primeira. Pensei nisto ao olhar a centralidade daquela instituição no bairro e como ali está, apartada da vida local. Como um enclave moderno em meio ao arcaico que impera no Brasil. A cordialidade, Na sociedade onde vive o homem cordial, diria ele no livro, cada indivíduo "afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas". O homem cordial, generoso e hospitaleiro no trato, é na verdade superficial, apegado às aparências. Abre flanco aos personalismos, segundo ele, um dos fundamentos da sociedade brasileira.

Sobre este último ponto ver http://www.unicamp.br/siarq/sbh/o_globo.html

quarta-feira, 3 de junho de 2009

um dia no Rio de Janeiro, Rap das Armas e Wagner

Hoje, interessada na atuação de Wagner Moura, depois de ver o medíocre filme Romance, resolvi rever cenas suas no cinema e no teatro. O filme Romance tenta ser inteligente, moderno, descolado. É pretensão demais para Globo Filmes. Tenta fazer uma crítica ao mundo da televisão, parodiando quem? A própria Rede Globo. Onde existiria tanta afetação para José Wilker no papel de um diretor canastrão? Bem, a Globo Filmes tem um objetivo que já está claro: fazer cinema de entretenimento para um público que gosta de novelas e tem interesse em enredos apenas 15% mais sofisticados, importando que o elenco tenha nomes do momento, desejados pelo público. E algum Marco Nanini para segurar e enganar quem pensa que pode existir cinema por lá.
Na busca acabei encontrando Wagner interpretando o Rap das Armas- cantado no filme Elite da Tropa. Ah... mas a favela rende tudo neste Rio de Janeiro... é como fruto do coqueiro, baixo teor de gordura e muito potássio. Pois bem, da tropa que se torna de elite para cumprir de forma igualmente elitista suas missões no morro, sai o filme que escrito por oficiais igualmente bem treinados, proporciona aos atores a oportunidade de sentir o cotidiano desta tropa. Nossa, mas a favela é mesmo como fruto do coqueiro, rendeu Urso de Ouro em Berlim. Sim, pois a preparação do filme também contou com ex-traficanete que é morador de favela, mas ao contrário dos oficiais, eles não aparecem em entrevistas. A favela que rende o Rap das armas - cantado por Wagner para parodiar uma novela das oito, rende ainda isto: estreladto e risos sobre uma base de funk.
Neste momento, os bailes nas favelas estão proibidos. Quem sabe se artistas como Wagner podem cantar o rap das Armas como forma de protesto? Seria uma gentil reciprocidade.