quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

o caso de Dona Maria

Encontrei Dona Maria em frente ao Jornal do Brasil, nuna quinta nublada, as 10 horas da manhã. Estava observando o tamanho do viaduto da Paulo de Frontin, imaginava o Rio Comprido sem este monstro de concreto. Passara pela Rua do Bispo observando o Turano despontando em cada vão de prédio. O caso de Dona Maria é conhecido. Uma senhora de 65 anos, negra, moradora do Turano. Chorava copiosamente e tão alto! Parei e tentei confortá-la. A casa de Dona Maria está "afundando" com seus seis gatos e um cachorro adotado. Dona Maria vive na mesma cidade que vivemos, nós que corremos em dívidas, compras, nascimentos, profissões. Dona Maria chorava com lágrimas pesadas. Fiz perguntas típicas de um proffisonal da segurança pública. Mas foi o que consegui... indaguei sobre sua família; "Minha irmã roubou minha casa, uma casa linda". Perguntei sobre os filhos; " Os filhos quando crescem nunca são nossos amigos". Chorava e pedia ajuda. De forma esquemática sugeri um abrigo da prefeitura. Lembrei do prefeito "Dudu Limpol" e tive ódio. Ela pediu que eu arrumasse um lugar para abrigá-la. "Com os seus seis gatos". Expliquei que morava em uma casa alugada e repeti o tempo todo que ela deveria sair da casa. Mas como medir um desespero. Cheia de goteiras, trocando a roupa de cama todo dia. Por último perguntei sobre um antigo patrão.... Em alguns momentos ela esboçou um sorriso, mas o choro não estancava.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CINEMA E CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Importante lembrar: não é a toa que o cinema nacional ressurge com Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, em um momento de inegável experiência urbana da sociedade do espetáculo, no sentido empregado por Gui Debord. Também a refilmagem de Orfeu, por Cacá Diegues investe todo o argumento na oposição entre aquele sambista, solidário, amado pela cidade (não só pelo morro), vivo, apaixonado, desejado por suas habilidades e beleza e este novo tipo social, o traficante, incapaz de conseguir admiração sem o emprego da força. Vivendo como um espectro entre frestas e sombras, como um zumbi semi-mortificado pela cocaína. Não é mais a morte fantasiada que vem buscar Eurídice. Esta morte não só tem uma identidade individualizada, como tem um negócio que proporciona poder local. Poderíamos explicar, no plano de representações que passam a fazer parte das justificativas reais dos indivíduos, que Orfeu nas suas duas filmagens, expressa duas temporalidades subjetivas que mostram algo sobre o espírito de uma cidade. Isto, se considerarmos que a arte é um veículo privilegiado para compreensão do inconsciente coletivo

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O último diálogo


"Então é isto", perguntou ela com um ar de espanto.
- Sim isto é tudo que tenho a dizer sobre sua pesquisa.
Retirado aquele autor, sustentanto este outro, cinco anos depois.
O congelamento do que poderia ter se constituído como a produção de uma pesquisa.
Um dia, meses depois lendo materiais sobre a biografia daquele pensador, uma idéia antiga ficou clara:
"Certo, não era possível ir além sem pagar os tributos".
"Certo, não era possível ir além sem apreciar aquela perpectiva de laboratório".
Se poderiam tantos outros demonstrar engajamento nas idéias do mestre, por que ele iria perder tempo com as utopias dos "jovens esquerdistas"?
E era isto.
Chicago não era Madureira,
Mas A Rocinha e o Harlem...
Tanto esforço para legitimar obras sem relevência,
para conservar forças em franca decadência....
Os nervos se enrijeciam,
mas isto era tudo.

DEFENDA-SE

sábado, 10 de outubro de 2009

ALTERIDADE


Quando os conceitos aparecem desencarnados de suas conseqüências concretas na vida cotidiana dos cidadãos, a filosofia política torna-se mistificação. O artigo a favor da permanência no Haiti, vejam na Folha, ocupa-se de pensar o Brasil no quadro interncional e sua caderia no Conselho de Segurança da Ouu. Estas defesas sobre "o papel do Brasil no cenário interncional" inflam vaidades levianas e complicam a longo prazo uma percepção da aliança política com diretrizes norte-americanas (o que teria alto custo político).
Para defender a noção de "não indiferença" seria preciso agregar uma discussão sobre ALTERIDADE e perguntar se os haitianos têm interesse neste tipo de solidariedade específico que sob o manto de reconstrução, usa de violência, violação de mulheres e repressão seguida de morte aos manifestantes. Como força de paz, esta coalisão é garantidora de que ordem?
O paradoxo dos conceitos e suas implicações aparece mais que escancarado na eleição para Nobel da Paz de um presidente que tem no Afeganistão mais de 70 mil soldados e que em 11 de setembro de 2008 registrava a morte de 4.100 pessoas.
A discussão sobre alteridade é central para quem está pensando cenários deste tipo

Brasileiros, "go home!"

TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil deve renovar o comando da missão de paz no Haiti?

NÃO

Brasileiros, "go home!"

SERGIO KALILI e SANDRA QUINTELA

NESTE MÊS , a jovem mãe de 20 e poucos anos Esterlin Marie Carmelle, solitária em seu cubículo em Cité Soleil, uma das maiores favelas de Porto Príncipe, capital do Haiti, deveria se lembrar de Jean-Jacques Dessalines, um ex-escravo que liderou, em outubro de 1802, a guerra para a expulsão dos colonizadores franceses da ilha. Dessaline, logo depois, em 1804, proclamou a independência do país.
O Haiti se tornou assim a primeira nação latino-americana livre, a primeira do mundo liderada por negros (no período colonial) e a única a ganhar a independência por meio de uma rebelião de escravos.
Mas Carmelle e seus vizinhos hoje não pensam em comemorar a luta de Dessaline. Neste mês, mais do que nunca, ela tem em mente a presença incômoda de soldados brasileiros da Minustah, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti.
No dia 15, contra a sua vontade, o Conselho de Segurança da ONU deve renovar o mandato de permanência da Minustah em seu país.
Carmelle tem a marca dessa missão de estabilização sob comando militar brasileiro. Durante uma das muitas operações do Exército em apoio à polícia violenta do Haiti em Cité Soleil, Carmelle perdeu o filho de dois anos, atingido na cabeça dentro de casa, enquanto dormia abraçado com ela.
Mais de 20 países participam da missão, entre eles, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai. Desde o início, em 2004, as tropas são acusadas de cometer massacres, assassinatos, estupros e outras violações, sobretudo contra a população mais pobre. Em novembro de 2007, o Sri Lanka deixou a missão depois que 108 de seus soldados foram acusados de abusar sexualmente de mulheres e crianças.
Ao apoiar as ações da polícia e do governo, integrantes da Minustah acabam por facilitar a repressão a opositores, líderes comunitários e movimentos sociais.
A bala que matou o filho de Carmelle talvez tivesse outro endereço. Nos bairros pobres e miseráveis, vivem ou viviam muitos dos seguidores do ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, expulso do país em 2004, após outra intervenção americana.
Gerhard Latortue, representante dos militares, de ultradireita, assumiu o poder com apoio americano.
Tropas da ONU substituíram os marines no país, após a aprovação da Minustah pelo Conselho de Segurança. Nos primeiros anos da missão, a violência foi intensa. Em fins de agosto de 2004, duas pessoas foram mortas próximas a Cité Soleil. Em 30 de setembro, dez manifestantes foram executados. Na madrugada de 6 de julho de 2005, 300 soldados, sobretudo brasileiros, mataram mais de 60 haitianos nos bairros pobres de Cité Soleil e Bois Neuf.
Em 2006, apesar da repressão e das fraudes, o candidato apoiado por Aristide, René Préval, elegeu-se presidente. Mas, com a Minustah, Préval acabou com poderes limitados.
Cinco anos de Minustah, e o Haiti continua o país mais pobre do Ocidente. Ocupa o 153º lugar no IDH da ONU, com 80% da população abaixo da linha da pobreza e 80% do povo desempregado. Poucos são os programas sociais e os recursos destinados ao povo. Do orçamento da missão, 85% vai para militares e a polícia civil.
A Minustah garante a estabilidade para a implantação de projetos econômicos que agradam mais aos países vizinhos e à elite doméstica do que ao povo. No ano em que foi eleito, Préval iniciou privatizações de portos, aeroportos, dos sistemas de telefone e saúde. Dezoito zonas de livre comércio surgiram para transnacionais, como as têxteis americanas.
Além da miséria, a violência continua. Manifestações são reprimidas e operações violentas se repetem em bairros pobres. Recentemente, soldados da Minustah foram acusados de matar mais um jovem durante uma manifestação.
Por tudo isso, haitianos tem protestado diante do quartel general da ONU, em Porto Príncipe, para pedir aos membros da missão que voltem para casa.


SERGIO KALILI , jornalista e documentarista, é pesquisador da ONG Justiça Global.
SANDRA QUINTELA , economista, é membro da coordenação continental da Rede Jubileu Sul.

sábado, 3 de outubro de 2009

FALTA DE SENTIDO


O problema não são os conflitos - afetivos, profissionais, acadêmicos- o problema é o que de subterrâneo está em muitas destas interações. Creio que esta á a razão de muita insegurança, de muito tensão e descontrole.
As vezes, algumas relações se transformam em falas sem sentido carregadas de desencontro. Sentimos a morte anunciada do que vivemos mas não temos as possibilidades psíquicas e materiais de libertação,
As vezes sabemos que em uma discussão acadêmica todos estão tão armados de medição, inveja, insegurança, que se fosse possível fotografar o não visto, a foto seria pantanosa. Servimos como dispositivo dos processos psíquivos alheios. E em relações de poder, acabamos servindo como móvel das projeções e frustrações de nossos superiores.
Destas doenças participamos ativamente e as vezes nos engajamos nas patologias, ativamente nos vemos acusando, temendo, desgostando, desrespeitando,
e por fim, perdidos, longe de qualquer sentido possível para elevar estas interações a algo que possa permanecer quando tivermos passado.

Vocês não sabem nada de nós

Frases da Semana
Após assalto no Arpoador, grupo registra fotos e sentencia
"Nós sabemos onde vocês moram, vocês não sabem nada de nós!"
Atenção para a segunda parte "Vocês não sabem nada de nós" - a literalidade do emprego deste não saber nada (onde moram, o que fazem, onde circulam, etc....) pode bem dar lugar à uma interpretação simbólica, "vocês nunca souberam nada de nós", mesmo quando servimos em suas casas, em suas camas e aos caprichos vários de seus consumos.
Na mesma semana outdoors de comemoração das unidades pacificadoras nas favelas cariocas
Os órgãos de segurança pública apontam uma correlação entre o aumento do roubo a residências e o sufocamento do tráfico nas favelas.
O fato é que assaltos na zona sul e grande Tijuca estampam jornais das últimas semanas.
Beltrame pretende treinar porteiros, para que não se "deixem enganar" por falsos entregadores de gás, medidores de luz, etc....
Pobres porteiros, terão de entrar na realização de segurança pública e em muitos casos serão vistos como suspeitos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ACABADO A TESE

Estarei de volta em breve, renascida das folhas, dos capítulos, das revisões, angústias e frustrações. Serão dias de Baco antes de assumir esta nova vida, formatada pela relação que estabelecemos com a produção de nosso texto mais longo- para alguns o primeiro, para outros o único
A TESE
Esta jovem mulher de 30 anos, mais nova do que eu e mais leve do que eu....cheia de tantas vozes,
Bem, nada do que escrevo até finalizá-la deve ser levado à sério- ela me consome todas as melhores energias.

E no Brasil?

O primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown, pediu desculpas pelo trato das repartições públicas em relação ao cientista Alan Turing, criador da teoria da computação que se suicidou em causas até hoje não esclarecidas.

Gordon Brown disse que "milhões de pessoas estão pedindo justiça para a Alan Turing e o reconhecimento da forma horrorosa como foi tratado". "Turing teve que enfrentar as leis da época (que criminalizavam a homossexualidade)", disse o primeiro-ministro, que revelou se sentir honrado por ter a oportunidade de dizer que sentiu "profundamente" tudo o que o Turing teve que enfrentar.

Brown lembrou ainda que, assim como Turing, "milhões de homens gays foram condenados por conta de leis homofóbicas que impuseram tratamentos horríveis e esses homens, que foram obrigados a viver com medo de serem condenados". Gordon disse ter orgulho dos tempos atuais e salientou que seu governo tem trabalhado nos últimos doze anos (Brown é do mesmo partido do antigo primeiro ministro Tony Blair) para "facilitar a vida da população LGBT e que estes sigam o caminho da igualdade".

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PROGRAMA RODA VIVA


Façamos usos dos recursos disponíveis

http://www.rodaviva.fapesp.br/search.php?q=fhc




Octavio Ianni: Mas eu distingo. Nós estamos vivendo uma globalização que é a globalização de cima para baixo. Que é das grandes corporações, dos grandes negócios, dos grandes mercados. E essa globalização é um fato irreversível e danoso. Gravemente danoso para todo mundo, estamos vendo. Agora, sendo o fato irreversível, o que nos cabe é reconhecer que é um fato irreversível e batalhar para que haja uma globalização de baixo para cima, para que os povos, os grupos, as sociedades, as nações, possam entrar nesse espetáculo fantástico que é a sociedade mundial.

Chico de Oliveira: Eu vejo um problema nisso, porque o seu príncipe eletrônico é um príncipe da memória e do esquecimento. São conceitos, são liberdades que você toma e toma com grande categoria. Na parte do esquecimento, há esquecidos que sequer podem processar a nova língua franca. Então, como fica a transculturação? Temos a África, que é um tema, aliás, eu estava preparado para te pedir a opinião, que é um tema pelo qual você iniciou a sua presença no mundo acadêmico da universidade para fora. Metamorfose do escravo, o livro que você começou essa longa viagem. Precisamente, como ficam esses esquecidos, esses que o príncipe eletrônico oculta todo o tempo? Que acesso eles podem ter a essa cidadania global?

domingo, 23 de agosto de 2009

PRESENTE PARA INICIAR SEMANA

Tempos de um humor maravilhosos, revejam esta
http://www.youtube.com/watch?v=pN8FDUgiRNY&feature=related

Maridos, esposas, relações e modernidade

As questões de que tanto trata Woddy Allen em seus filmes, especificamente para esta discussão o filme Maridos e Esposas, é tipicamente moderna (e alguns dirão burguesa). O ideal da realização profissional e de um casamento onde existam quase todos os itens modernos:companheirismo, trocas, romance, sensualidade, fidelidade, admiração, projeto de vida.... creio que estão dão conta do que preciso para explicar o problema. No caso dos casas que podem praticar as liberdades modernas (renda e formação são poderosos liberadores para mulheres e homens), as dificuldades de ajustamento só aumentam. Assim como o número de pessoas que passam a fazer análise. Não é uma crítica ao ato de fazer análise, mas a generalidade do problema, o transforma em um fato social- e foi por isto que resolvi escrever.
o ângulo de onde abordarei a questão tem relação com a emancipação feminina: consciência dos desejos não satisfeitos, da desigual divisão de tarefas, do processo de deterioração da intimidade, do problema em relação á criação dos filhos, do problema para realização do projeto pessoal. Como resolver isto com análise? Lá pelas tantas, alguma indicação de rompimento. Vinda de um amigo, de um conselheiro, do desejo de viver outra situação afetiva.
O rompimento implica em: 1) mudança de residência, portanto erosão patrimonial, 2) rompimento com um círculo onde podemos estar encaixados - em metrópoles onde existe muita dificuldade para refazer amigos (moro no Rio há 4 anos e devo ter no máximo 4 ou 5 pessoas mais próximas), 3) a dificuldade para preencher o espaço com todos os atributos listados lá em cima, projeto, intimidade, romance, etc....
Por esta razão, podemos viver uma vida " desacoplada" (inspiração em Giddens, certo?). Explico: podemos crescer ao lado do outro, que se constitui na base de apoio para desafios: como são os concursos todos, os medos, as neuroses. E viver uma relação afetiva estacionária se analisada do ponto de vista da intimidade. Mesmo no mais moderno mundo, os papéis não se alteram facilmente, os discursos se reproduzem. As mulheres são qualificadas como " detalhistas, exigentes, neuróticas", os homens são " desleixados, relaxados, egoístas". cada um vê o outro por estas lentes - que não são lá, a 'lente do amor".
As transformações na intimidade (Giddens novamente, confesso que não li todo o livro), colocam a urgência da resolução - nada pode ser adiado por muito tempo. Não há como perder anos da vida esperando que os filhos cresçam, que o marido ' pare de beber", que o encontro sexual melhore. Tudo tem de ser agora. Não há doação? Mas não houve um modelo de sociedade onde a doação era a base das relações? Espero que não vejam aqui, uma observação que possa ser taxada como "típica das feministas".
Quero enfatizar a questão do ajustamento e das relações estacionárias. Creio que o desajuste nas relações produz um número inédito de rupturas. O lema " antes mal acompanhada do que só" tem um apelo inegável. Mas também perde força diante da escolha pela solidão feita por tantas mulheres.
A escolha entre "ajustar-se" a um corpo sem vibrato, que deixou-se engordar pelos anos de convivência e lançar-se em aventuras na busca de um colorido-movimento, estão aí.... não sei se parte dos homens são capazes de usar seu tempo para pensar a respeito. Creio que existe uma barreira cognitiva nisto - já que fazê-lo implicaria em rever a própria atuação. A própria incapacidade de "doar-se" ao mesmo para satisfazer o outro. Muitos casais se reconhecerão no que digo: é a distância que media a convivência. Durante 3, 4 ou 7 anos. Mortifificando o cotidiano, gerando contínua irritabilidade, inveja de moças e moços de folhetins, fantasias e é claro, enriquecendo os analistas e os farmacêuticos, as academias, clínicas de cirurgia plástica, lojas de bolsas e sorvetes. Alguns sabem que estão insatisfeitos, outros recalcam isto e passam a manifestar um comportamento obssessivo em outras questões: futebol, carreira, política partidária, direitos humanos, enfim.... os na criação dos filhos.
Os que sabem, explodem, berram, gritam, querem resolver a questão. Os outros, podem atravessar melhor suas crises, e até encontrar sentido na casamento como instituição de produção de segurança. Não falo isto de forma crítica. O rompimento produz um desgaste tão meteórico que as vezes, é melhor manter tudo em seu lugar, dando vazão ás fantasias, pequenas traições, etc....
Não pensem que duvido das potencialidades do amor moderno, como fruto do legado dos trovadores medievais, este que tem romantismos de todo o tipo e encontros sensuais transformadores. Tudo que escrevi não exclui esta possibilidade, que aliás também se realiza com freqüência justamente porque a coragem de romper, fortalece a coragem de amar. Creio que romper pode ser até mesmo um ato de respeito ao próximo, já que não é novidade que uma interação ruim não produz necessariamente, outra relação ruim. Claro que é desolador ver aquele ou aquela que deixamos florescer nas mãos de outrem: " mas comigo ele nunca fez isto", "como ele se curou da impotência", "ela passou a se vestir melhor", " veja, ela terminou a faculdade".
As relações conjugais, em minha humilde opinião, são as maiores forças de movimentação psico-espiritual a partir de determinada fase da vida. Passamos pelos piores pesadelos e pelos maiores deleites, nos medimos, nos humilhamos, somos capazes de crueldades. Ou seja, podemos conhecer a profundidade de algo que chamam de “alma”. Esta é a relacão social mais próxima com alguém que não tem nosso sangue. Daí que estes são dramas modernos inescapáveis....

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

indicando blog

Na pesquisa com funk encontrei este blog que indico à vocês
http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com

Sobre Panteras e Àguias

Pontos para refelexão a respeito de mudança social. Vamos lá
1. direitos civis norte-americanos
2. acesso universal á educação de qualidade
3. ocupação de cargos por mérito e não por cor ou descendência familiar
4. direito á dignidade no tratamento jurídico

Uma família negra, parda, não importa, o micro aqui é macro. Porque em um grupo de 7 indivíduos cujos pais tiveram pouco acesso à escola, e entrada na Universidade é um dado político significativo-
Não fiz a referência na mensagem aos meus primos, no estilo tão comum em famílias onde tornar-se juiz, sendo filho de desembargador. só confirma que a sociedade se reproduzirá nos mesmos moldes.
Sei que vocês entenderam onde está a mudança. Uma parte dela ao menos.

para meus primos,
Porque é fácil esquecer de registrar nossos afetos,
Para Amanda que chegou ao mundo agora
Para Juliana, André, Marcelo
Jaqueline, Daniel, Rafael, Caroline, Júlio....
e desta diáspora toda, para os outros que longe estão.
Parabéns aos que têm a coragem e o amor para dar a estas crianças - são nossas cópias melhoradas,
Parabéns aos formandos, André e Jaque- estarei aí para ver esta família em seus belos tons - desfilar pelos salões da PUC e da UFRGS.
e todo a gás para os que têm de achar um caminho em um país como o Brasil- VAMOS CONTRARIAR AS ESTATÍSTICAS....

domingo, 16 de agosto de 2009

Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro

Reproduzo do blog Tribuna da Imprensa estas informações,
sexta-feira, 07 de agosto de 2009 | 19:45

Imbecilidade do governador Sergio Cabral

Museu sem IMAGEM, sem SOM e sem VISTA

Estou PERPLEXO. Copacabana tem uma das vistas mais belas e cobiçadas do mundo. Mas os projetos selecionados do MIS (Mostra da Ignorância do Sérgio ou Museu da Imagem e do Som?) não têm JANELAS.

Não se aproveita a vista. São paredões de concreto com mais ou menos “aberturas”, de acordo com “a cegueira” de cada projeto. Quando a fachada deveria ser uma “varanda vertical” toda de vidro de alto a baixo, “socializando” a vista. Confira aqui os projetos

Por isso, as construtoras que vão “vender” a Barra pelo resto da vida anunciam: “Na Barra a vista É PARA SEMPRE”. Que tal um MIRANTE VERTICAL, e deixar que todos fiquem maravilhados e satisfeitos?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

memóras afetivas


saudades do IAPI - sem querer dar uma informação manjada, Elis morava por aqui....mas agora me apaixonei por Piaf- apresentarei Millord á vocês!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

PARA ASSISTIR

AMIGOS
Ainda não sei postar vídeos, mas o endereço está abaixo
É uma animação de Disney para Carmem Miranda
Peço encarecidamente que assistam - é de uma poesia ímpar.

http://www.youtube.com/watch?v=hRz-M30PcEU&feature=related

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Das relações interpressoais


Ouvir sobre abuso policial em uma grande cidade como o Rio de Janeiro, produz uma sensação de desconforto e acomodamento dentro de um quadro geral de cognição urbana: os lugares são estes, as práticas são estas. Mas ao fim, o que faz com que um homem, se aproprie do material do trabalho de uma mulher que nitidamente opta por este recorso como forma de sobrevivência?
Nossos nervos podem enrijecer a que ponto?
Não há como acomodar as informações dentro de um quadro que torna normal este fato.
Os bairros, as cidades, os Estados, as nações e tudo isto atravessado por estas relações - não basta descrever.

O que é uma cidade?

Há algumas semanas estudando para escrever o capítulo três da tese, reencontrei com mais maturidade a escola de Chicago- e comecei a ver de outra forma a organização urbana da cidade do Rio, principalmente no conjunto que vai da Presidente Vargas até a Cinelândia. Hoje fiz o caminho de retorno pela Carioca- olhando o Passeio a a aglomeração urbana. Multicultural? Multiétnico? A cidade, seus prédios luminosos, no caso do Rio de Janeiro, estes fantásticos prédios de 1880 ou antes. Mas estamos aí, no nível da descrição da diversidade de pessoas, construções, cafés... Na seqüência de um café as 18 horas na Presidente Vargas, caminhei até o lado esquerdo da Rio Branco, direção centro. Ao parar para olhar pérolas não-verdadieras de uma vendedora, na esquina, registrei a história que passo a narrar:
"Ele apareceu, dizendo perdeu, perdeu e saiu, Nisto o policial foi atrás e pegou a mercadoria. Fui até a Uruguaiana pois sei que eles têm de pegar o ônibus ali. Disse a ele que queria o lacre pois tinha todas as notas fiscais da minha mercadoria. Ele jogava para cima, irônico, quebrando meu material. Peguei seiscentos reais emprestados para adquirir a mercadoria. Ele disse- Isto é seu?
Dias depois fui ao depósito, vi de tudo, tinha sobrado pouco de minha mercadoria. Tudo quebrado, além disto, tenho de esperar 30 dias para pegar de volta"
CHAMAMOS ISTO DE ?
CHOQUE DE ORDEM.
Uma metrópole como o Rio de Janeiro, não é L. Angeles, não temos iraquianos, chineses, mexicanos. Mas temos relações complexas de poder ocorrendo agora, na rua, nas madrugadas onde cães e homens não se distinguem.
ESBARRÕES?
Esbarrar-se pelas veias nervosas da cidade.
O que é una cidade?
Desconfiança.
Termino esta postagem com duas sugestões:
1. Simmel - As grandes cidades e a vida do espírito
2. Crash - No Limite

sábado, 1 de agosto de 2009

PARA VISITAR


PREZADOS BRASILEIROS E PREZADAS BRASILEIRAS

De nosso passado, coisas devem ser esquecidas e outras, revisitadas.

Suspeito morre em operação da PM para coibir baile funk na zona norte do Rio


01/08/2009 - 20h55

colaboração para a Folha Online

Um suspeito morreu após ser baleado por policiais militares em Vila Isabel, na zona norte do Rio, na tarde deste sábado. Segundo a Polícia Militar, os policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) do 6º Batalhão da PM entraram no morro dos Macacos em uma operação para impedir a realização de um baile funk e traficantes de drogas atiraram neles.

De acordo com a polícia, um dos suspeitos foi baleado no confronto por volta das 16h. Ele foi socorrido e encaminhado ao hospital do Andaraí, mas morreu no local. A polícia informou que uma pistola calibre 380 foi apreendida com o suspeito. Não há informações sobre a identidade do homem.

A operação também contou com o apoio de um caveirão --o blindado das tropas de elite da polícia do Rio. O caso foi registrado na 18ª DP (Praça da Bandeira).

fim de congresoo, dois cafés e uns abraços

Lamento que a Urca passou por dias tão úmidos - mas, como disseram alguns amigos- isto era bom para que as pessoas "fossem ao Congresso".
Registro com carinho a ida de Bruno, Nádia, Marcus e Raquel na mesa de ontem. Acho que não há nada de piegas no registro da importância dos pares de discussão - que são também pessoas que admiramos. Principalmente, como eu conversava com amigos do sul na quinta- quando o campo sociológico parece cheio de sociopatas que discutem como erguer castelos de fumaça. E não é daquela tão comum nos anos 70. Há uma geração que não cultiva nem ervas, nem Tropicálias, nem militâncias, foi tragada por conceitos de eficiência. Perderam o tempo reflexivo que exige recuo na literatura, no cinema e na paixão. Paixão nós temos por amigos também. Vem de ânima, de eros. E isto supera o que comumente se define como estar apaixonado.
O Congresso estava tão cheio, tão cheio, que é claro, você poderia bem ficar se sentindo sozinho.
É interessante como diante da especialização de nossa área, vi muito poucas discussões sobre conjuntura política.
Entre os trabalhos que vi, me chamou especial atençãu o trabalho sobre a Semana de Arte Moderna da Periferia de São Paulo de Érica Peçanha da USP.
Notei que os grupos de trabalho sobre violência e cultura estavam lotados, já os que tratavam teoria, nem tanto.
Não terei mais paciência para discussão sobre origens do samba, se ele vem da Etiópia ou de Madureira. Qual a relevância da questão? Creio que o discurso que afirma " Não tenho lado, quero mostrar os processos, e blá,blá blá" feito por cientistas no sudeste do país, é muito sintomático de como percebemos a ciência em países como Brasil. Maria Teresa Haguette, tem um livro "Metodologias qualitativas" onde faz uma discussão sobre o papel do pesquisador na América Latina. Me pergunto :
- Quer dizer que você tem uma bolsa do CNPq, mora em uma capital com todos os acessos, biblioteca, teatros, viagens e faz uma tese para comprovar que não há pesquisas sérias o suficiente sobre origem do samba?"

Este é só um exemplo. Tenho de revelar que também tenho complicações com temas como
"as praias de nudismo...." . Depende de fato da construção do objeto.
Mas descrever uma realidade social, mesmo que fantástica., não finaliza nossa trabalho. Todo bom jornalista pode fazer isto.

Eu vou postar alguns títulos em breve e vocês concluam. Desde trabalhos sobre animais de estimação até etnografias sobre espaços de depilação masculina.

Não há como seguir sem discutir nossa fazer científico. E as egências de pesquisa,também orientadas sob critérios expressos de produtividade e eficiência não o fazem,

Creio que esta discussão é feita com muito menos intensidade do que outras. E aí se emaranham as questões políticas do campo acadêmico e ele aparece ao mundo desencarnado. Nisto sigo com Bourdieu.





segunda-feira, 27 de julho de 2009

Efeito Colateral

Antes de escrever sobre o quero escrever acho importante situá-los da atual situação política-criminal do território de onde falo. A Vila do João, onde moro, junto com mais cinco favelas era “dominada” pela facção criminosa A.D.A. (Amigos Dos Amigos). Essa facção mais as facções CV (Comando Vermelho) e TCP (Terceiro Comando Puro) e os Milicianos, são responsáveis pelo “domínio” territorial, político, econômico e social das dezesseis comunidades que compõem o bairro Maré. Essa é a composição da disputa geográfica dos grupos armados em confronto no bairro Maré.

Como podem imaginar, a relação entre essas facções se dá pelo confronto armado na disputa por ampliação do controle territorial. O que acontece hoje na Vila do João e as demais favelas que eram controladas pela facção ADA. É uma investida muito forte da facção rival TCP, que dominou 50% do território que antes era controlado pela facção ADA e, ainda tenta conquistar os outros 50%. A ADA por sua vez tenta assegurar o que lhe restou e tentar recuperar a parte que perdeu, sem muito sucesso, até o momento.

Esse é um pouco o cenário atual. Não é preciso lembrar que são grupos com armas de grosso calibre, sem nenhuma preparação e ávidos por vingança. Isso vai dar numa constante troca de tiros e investidas sucessivas por ambas facções. Desses confrontos quem mais sai prejudicado é o(a) morador(a). Somos nós as vítimas do chamado efeito colateral. Os relatos e depoimentos são os mais tristes, preocupantes e trágicos que se possa imaginar. Nunca antes, na minha história dentro da Maré tive tantas pessoas próximas vitimadas de alguma forma, pelos confrontos entre facções rivais ou entre facções e a polícia. Morreu um senhor morador da minha rua na quinta-feira passada porque foi obrigado a transportar traficantes em meio a uma imensa troca de tiros. A Kombi foi fuzilada pelos traficantes rivais e o senhor morreu. Meu vizinho teve a casa fuzilada e invadida porque traficantes invasores que pensaram terem visto inimigos na casa dele. Ele tem mulher e filha pequena e sua mãe mora na parte de cima da casa. Ontem fiquei perdido no meio de uma troca de tiros em meio a uma escuridão provocada por uma queda de energia e soube que um amigo tomou um tiro na perna. Meu irmão, “veterano de guerra” relembrou os tempos de palafita e teve que rastejar em casa para chegar aos interruptores e conseguir apagar as luzes da casa e assim evitar um possível pedido de guarida por algum traficante. Em outro caso, um amigo nosso teve a casa invadida por policiais e foi acordado com fuzil na cara. São inúmeros os casos. São muitos os óbitos. São vários os feridos fisicamente, socialmente e psicologicamente.

Pessoas inocentes, trabalhadores, pais de família, cidadãos. Pessoas que estão tendo arrancado de si a esperança de uma vida melhor. Que vivem o medo e o risco eminente de uma morte violenta e sem terem a quem pedir socorro.

Como exigir dessas pessoas um voto “consciente”? Como convencê-las de procurar os meios legais para reivindicar seus direitos se nem mesmo se veem como sujeitos corporificados de direito? Cadê o acesso aos instrumentos legais? Onde estão os tais Direitos Humanos, tão ventilados nos últimos tempos? É necessário urgentemente criar meios de acessibilidade a mecanismos que garantam direitos primordiais como o direito de ir e vir e, principalmente, o direito a vida. Sem a garantia de acesso a esses mecanismos fica muito difícil mudar a cultura do macaquinho que nada ver, nada sabe e nada ouve.

Nesses dias de luto e violência tem me levado a refletir mais sobre a favela. Por mais que a violência tenha crescido junto com as favelas, ela [a favela] sempre tentou manter o que mais tem valor: a alegria e a força do seu povo. Mas só isso não basta. Precisamos sair as ruas. Precisamos lutar por dignidade, por respeito, pela vida. Ultimamente só vejo medo nos olhos das pessoas. Nem mesmo o baile funk tão necessário para descarregar nossas angústias e depressões existe mais. Está proibido pela polícia. Chegaram a ponto de proibir sua execução em festa particular, é repressão demais. Tenho andando assustado, quase não paro na rua, não vejo meus amigos, me assusto com criança correndo, barulho de moto, gente gritando, com o silêncio. Quantos de nós passamos por problemas psicológicos? Quantos sabem disso? Assim tem sido nossos dias e noites. Do jeito que ta não da pé, do jeito que ta só a fé.

Francisco Marcelo - Morador da Vila do João e estudante de geografia da UFF

domingo, 26 de julho de 2009

Da impossibilidade de esquecer


No exato momento eu que finalizo a tese, um processo estranho ocorre pelos dias: são 01:00 da manhã e acabo de lembrar de minha primeira percepção do mundo aos 3 anos na baica de alumínio em que minha vó me deu banho. è a lembrança primeira que tenho. Fora isto, tenho voltado aos dias em que andava com vestidos floridos e algumas coisas eu gostaria de esquecer. para isto escrevi uns 10 cadernos, forma de encarar separações, medos e desafios de todo o tipo. lembrei de uma colega de faculdade em uma situação que ocorreu no ano de 1993, no banheiro do restaurante universitário: comentários sobre espinhas. Ao mesmo tempo em que fecho o texto sobre EScola de Chicago, lembro de aulas desastrosas no curso de ciências sociais.
Talvez seja um portal de passagem, pois aos 33 anos, muito do que fui vai se assentando em um solo mais profundo. Talvez porque minha condição de exilada da terra natal, me leve por noites e noites para Porto Alegre, para amigos que foram definitivos em minha formação, para amores tantos que tive por lá. Talvez porque minha trajetória seja para mim, uma surpresa. Nunca estive onde estava até fechar uma complexa rede de experiências. E tantos já se debatiam por uma nota 9,0 em estatística. Não entendia nada, nem de política acadêmica, nem de como ser próxima da pessoa certa.
Adorarei esquecer muitos fatos em menos de mês,
E morrer para este passado.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

de virada


Já estamos em 01:16 da manhâ de sábado, creio que chove em toda a cidade, isto acaba com a alegria dos jovens, colabora para o sono dos justos e favorece o silêncio das horas. Nem os cães se arriscam. nem os tiros são ouvidos. Esta chuvinha de hoje, é daquelas cuja cadência amolece os nervos, pipoca na sala, pipoca no quarto, pingos irregulares, a chuva é semnpre tema de poemas, principalmente em terras chuvosas, coisa que no Rio nem se conhece. Mas como ocidentais e amantes da luz -esperamos o sol
E amanhâ? Mais Weber
E domingo? Como Durkheim via a cidade - morfologia social e depois das 16 hoias Escola de Chicago
E segunda? De volta ao arrastão de 1992, quando foi mesmo que ser funkeiro virou crime?
Enfim, até as 18 horas, terminar este capítulo.

OLHARES SOBRE UMA VILA FORA DO NOTICIÁRIO


Amigos
Não demorou muito e meu amigo Francisco respondeu ao chamado. A Vila do Joâo no Complexo da Maré está vivendo dias de confronto aberto, mortal. Luta por território. Lá já estive duas vezes, lá tenho alguns laços de afeto. Além do baião-de-dois. Em campo, sempre penso em como descrever as principais passagens das favelas onde vou. Como na Rocinha, a rua principal é repleta de todo tipo de comércio, muita poluição sonora, motos, e pessoas, acima de tudo, indo e vindo. E pelas entradas das ruas, vamos vendo as edificações que se expandem verticalmente.
O que podemos fazer é amplificar a mensagem de Francisco para que a população fluminense saiba que moradores estão sendo alvejados, que muitas pessoas têm sua rotina de trabalho alterada, que garotos se filiam ao tráfico sem terem nenhuma vocação para bandidos.... Vamos ao que enviou Francisco:
Hoje talvez meu olhar perceba apenas o que meu coração sente. Esses dias de angústia intensa, provocada pela intensificação de confrontos entre polícia e traficantes de facções rivais e agravado pelos resultados desses confrontos talvez faça com que meu olhar não ultrapasse os muros, becos e ruas de minha comunidade. É interesse e reparar no olhar das pessoas em tempos de confrontos agudos. Estão sempre atentos a todos os movimentos, ao vai e vem das pessoas, ao menor movimento de um carro, de uma moto, as aparições em janelas, ou seja, literalmente ligados. Mais do que falcão o fogueteiro da favela precisa ter olhos de águia e agilidade de rato pra se esconder, pois disso depende a sua vida e de seus companheiros de facção. Os olhares acompanham os sons de diferentes calibres de potentes armas de fogo. Olhares que se fecham diante dos altíssimos decibéis. Olhares que se fecham mais cedo e que a cada manhã se abrem ávidos nas bancas de jornais a procura de notícias, de vestígios nas ruas, de esperança num desfecho que traga um pouco de paz. Olhares que se fecham novamente mas que dessa vez se abrem acompanhados de lágrimas de dor ao saber que mais um morador, um inocente, foi vitimado pela ação estúpida e infeliz de grupos armados. Estranhamente nada nos jornais, nada nos noticiários da tv, nada em lugar algum a não ser nos olhares e no coração dessa gente que não se cansa de olhar e não ser olhada.
Abraços, Francisco Marcelo Observatório de Favelas do RJ

Eu apóio a luta da Flaskô

http://www.flasko.blogspot.com/

SUGESTÃO DE FIM DE MÊS


Leituras sobre música popular brasileira - reflexões sobre sonoridade e cultura

Emerson Giumbelli, Júlio Cesar Valladão Diniz, Santuza Cambraia Naves (organização)

  • Assunto: Ensaio
  • Formato: 16x23
  • Número de Páginas: 420
  • ISBN: 978-85-7577-505-9
  • Ano: 2008

Leituras sobre música popular – reflexões sobre sonoridade e cultura é um livro marcado pela mesma pluralidade de seu tema: a música brasileira. São diversos os gêneros que compõem nossa música popular, assim como são variados os ritmos analisados ao longo dos vinte e quatro artigos do livro – do samba ao heavy metal, do Tropicalismo ao funk, passando pelo rock nacional, os violeiros mineiros e o Manguebeat. Os textos reunidos abordam desde movimentos e cenas até o conjunto da obra de bandas e artistas específicos durante as últimas décadas, focando sempre na multiplicidade e na interdisciplinaridade. O conjunto dos ensaios apresenta um amplo panorama em torno da música brasileira, e é leitura obrigatória para os pesquisadores e amantes da nossa música.

CURTINHA MAS RELEVANTE


DIETA DE TESE
NUM DIA CATAFLAN NO OUTRO VINHO TINTO SECO

Todos os olhares


Gostaria de propor uma criação coletiva. Sim, afinal tendo passado o dia a ler sobre o Império Romano e poder dos principados, entendo melhor as milícias e o agronegócio. Precisamos exercitar habilidades não-monopolísticas. Lutamos pela melhor tese, pelo melhor reconhecimento, enfim,,, tipos de poder dispersos mundo afora dos quais tentamos nos apropriar - mesmo em atos caridosos. Não porque eu tenha lido Weber, mas também porque o li, estas reflexões surgiram.

Mas foi em uma quarta-feira lá pelas 18:00 horas na Hadock Lobo, indo para a aula de antropologia que percebi o que agora registro: Eis que uma dama se levanta e faz sinal para descer. Enquanto se desloca pelo corredor, um popular que levava um cano em PVC de um metro mais ou menos, tendo lá seus 30 anos, acompanha o deslizar de uma mulher com idade equivalente a dele. Não era exatamente um olhar agressivo. Mas era nítido o suficiente para que deixasse entender que ali, misturavam-se curiosidade e um pouco de malícia. Que pode ser percebido no olhar de quase todo homem ao ver passar um tipo que chame atenção.

Por vezes, me espanto com o que as pessoas revelam pelo olhar: onde está a inveja se não no olhar? Em que lugar esta senhora pantanosa habita melhor que naquele olho parado, fixo que torna o resto da face um acessório- como se os olhos crescessem para engolir tudo que abarcam?
Salieri vendo a genialidade de Mozart

Onde aflora primeiro a raiva, se não nos olhos? Al Pacino em Scarface ao ver que sua irmã deitou-se com outro homem. Segundos até que se transforme numa máquina de ira em movimento de morte

Se são a janela da alma, o que pode ser acrescido é que em uma cidade de seis milhões de habitantes, são muitas as formas de olhar, muitas delas, sem o direito à imaginação. Porque imaginar é um ato de vontade que precisa de espaço. Não espaço físico apenas, mas espaços com cores. memórias e possibilidades de mudança de posição.

O que a caixa do supermercado vê diariamente são pacotes de café, de arros, legumes. Números, pessoas. Fixa de seu lugar. Por horas e horas e horas.

Dos operários sabemos que veêm pouco a luz do dia.


As crianças, como sempre foi o meu caso, passam as horas de sala de aula a olhar pela janela. A crueldade da sociedade é educá-las para que fixem um único e verde ponto - O QUADRO NEGRO.

Os presos, nosso tipo-ideal de olhar cerceado, imaginam por obrigação.

Diremos que os magnatas enxergam ondas, praias, hotéis, jóias....e não estou apresentando uma crítica quando digo que simplesmente são cegos aos porteiros, funcionários, secretárias etc.

Talvez os bons professores e os artistas, sejam aqueles que ampliam nossa visão. É claro que há o lugar da ciência, Mas ainda penso que há muito de arte em Einstein, Freud, Marx ....

Gostaria de ouvi-los sobre o olhar.
Podemos compor um post coletivo com figuras, textos etc..

observaçâo: procurei muito uma imagem do olhar de Al para ilustrar fírgura.
Mas convenhamos, o olhar de Ana Magnani vale bem uma tese. Mandem imagens de olhares e podemos criar uma galeria

terça-feira, 21 de julho de 2009

Desde Pereira Passos é assim....

Outra marca do programa de melhoramento e embelezamento da capital foi a construção de prédios culturais e a concentração das obras nas zonas Central e Sul, ratificando a intenção de valorização dos terrenos em questão. A construção da Avenida Beira Mar confirmou a estratégia de expansão do sítio. A integração de Copacabana ao espaço urbano também foi promovida pelo poder público, através do túnel do Leme (1906) e da construção da Avenida Atlântica.
Por outro lado a cidade e o espaço, que haviam se transformado em mercadoria, são cobiçados por grandes interesses. Grandes obras, grandes projetos eram exigidos e disputados por empreiteiros, construtores e outros grupos de capitalistas burgueses. O próprio aparelho do Estado era infiltrado por estes interesses, tornando o favorecimento uma prática regular do serviço público. O mais entusiasmado executor dos projetos, o Prefeito Pereira Passos, possuía ligação direta com grupos de construtores. (AMADOR E., 1997, pg. 324)
Em relação à higiene e saneamento de alguns bairros, Passos mandou canalizar rios como o Carioca, Berquó, Maracanã e sanear a Lagoa Rodrigo de Freitas. Declarou guerra aos quiosques, proibiu a atividade dos vendedores ambulantes e o exercício da mendicância.

fonte

Considerações históricas da organização espacial da Cidade do Rio de Janeiro: Um enfoque no Complexo da Maré *
Taiana Santos Jung
Geógrafa, Mestranda ENCE/IBGE – taianajung@ibge.gov.br

quinta-feira, 16 de julho de 2009

o Brasil é um pouco diferente



Bento Prado Jr.:

"Depois do programa, Sartre nos perguntou: 'Como é possível que uma empresa capitalista gaste tanto tempo ou dinheiro para que possamos fazer nossa campanha pelo socialismo? '. Ao que respondemos: "O senhor sabe... o Brasil... o Brasil é um pouco diferente".

sábado, 11 de julho de 2009

Dentro do ar

Estive fora para entrar nos eixos com minha tese. Tenho umnas 70 páginas de entrevistas para analisar e penso na composição da tese como uma partitura. Mas neste caso não foi o jazz que me moveu, mas movimentos que conheço pouco, Apenas o suficiente para lembrar de "alegro" , "andante"... ou seja, talvez por ter visto a biografia de Mozart, duas vezes nestas semanas, ando pensando em peças clássicas. Afinal de contas, mesmo com toda a genialidade de Umberto Eco, sempre podemos escrever livros sobre como escrever uma tese. Se alguns se pautam pela excelência acadêmica e dominio teórico, outros (como alguns antropólogos) descrevem até mesmo trocas de telefonemas. Cada um com seu ofício, é certo. Se eu dissesse que o melhor é um equilíbrio dos dois, não seria exatamente fiel ao que busco. Por isto a figura da ópera chega como inspiração. Cada um com suas referências. A sociologia pode matar nossa literatura, nosso lirismo e nosso bom humor. Pode matar nossa lente ampliada. Mas como ter "um estilo"? Este que admiramos nos grandes escritores como Saramago? Ou em grandes cineastas como Copolla? Bem, direi que o caminho pode ser um vale de solidão, abismos e desafios. Mas escrever uma tese, com prazos e obrigações materiais tem se revelado uma obra. E o que confere sentido à palavra obra? Não há exata medida, nem fórmula, nem estilo a seguir. O que seduz em Foucault não é apenas seu argumento. Ele desejava ardentemente encontrar as palavras que nos abalassem. O abalo de um texto é capaz de parar nossas horas. Uma vez teria dito ele, que escrevia para ser amado. Outros fazem das palavras sua guerra com o mundo. Vejam que escrevemos por razões tão distintas. Enquanto uns escreveram para aprimorar os tratados que perpetuavam a dominação de um sistema político sobre outro, outros escreveram para inflamar multidões. E o fizeram ao manifestar a estupidez de um direito natural que assegurava "naturalmente" a riqueza dos homens. O que não podemos negar , meus caros leitores, é que é o processo da escrita, que tem nos marcado profundamente como homens de um tempo onde as palavras postas em papel ainda têm importância fundamental não só no ordeamento das pulsões como na tentatica de fuga.
Minha tese terá um movimento andante, depois alegro e ao final, apresentarei à vocês algumas fíguras que lembrarão canhôes, silêncio e surpresa.

terça-feira, 16 de junho de 2009

PARA QUE ESTE ESTADO DE COISAS CESSE

Como enquanto eu andava ouvia esta música, quando apareceu o Estado no meio da manhã e mostrou suas formas de Leviatã -
para o Leviatâ, uma canção popular, lá de Xerém
de Zeca:


Eu sou descendente zulu
Sou um soldado de ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre

Sim vou na igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum

Ogum

Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais

Ogum
Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que faz

Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz

Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão

Ogum
É quem da confiança pra uma criança virar um leão

Ogum
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração


minha racionalidade ocidental não resiste a certos chamados. E diante do horror sempre é preciso acreditar em algua justiça
Que seja a de jorge

PODERES E CHEFES DE ESTADO - NOTA RÁPIDA


Na atual geo política do Estado- nação, pensar o lugar do UM e do poder dos chefes, me parece tarefa fértil. Obama tem sido defendido por uns e desacreditado por tantos outros- ver Folha do dia 12-13-14 junho. Eleições fraudadas no Irã? Ahmadinejad nega o holocausto e proíbe observadores no processo- Lula diz que é briga de torcidas e declara que Governo Francês pagará os custos do desastre.O casal Kirchner gastou 395 milhões de pesos (cerca de US$ 125 milhões) com publicidade em 2008. E por último, Antonio Castro flerta com mulher que é homem em site de relacionamento.

Poderes e chefes de EStado....

Ontem pela manhã, dando a volta no Maracanã e ouvindo Candeia, experimentava a saborosa aproximação com o Rio. Até que uma escolta com 10 motos e 4 carros pretos cruzasse o espaço instaurando esta realidade que é o ESTADO.

Tão performático e neurótico;

por isto, sugiro Pierre Clastres para todos os próximos dias, SOCIEDADE CONTRA O ESTADO

voltarei nisto.


domingo, 7 de junho de 2009

Dança de rua para rainha da Inglaterra

Se aparentemente a postagem de hoje passa longe do que miro como objeto de pesquisa, basta olhar os componentes do grupo vencedor do Britains Got Talent e ficará simples entender. Dançarinos "de rua" fazendo uma mélange de Michael Jackson, de temas das Olimpíadas, de batidas clássicas dos anos 80... Uma coreografia, que mistura street dance com rápidas esquetes. Paródias de filmes de 007 ou Superman. Tudo dentro de um gosto pop, carregado de movimentos bem executados. Não há genialidade, não há exatamente um elemento conceitual na dança. Mas ainda assim, nos primeiros momentos, ela nos arrasta. Ali estão plasmadas virtudes adoráveis do show business: meninos talentosos, alegres, vivazes. Apresentando releituras "modernas", com doses precisas de ousadia. Nada de muito crítico. Um verdadeiro espetáculo, como conceituaria Gui Debord. O interessante além disto, é que o resultado vai confirmando uma tendência: a rua, multicultural, globalizada, "impura" e acima de tudo, ritmada. É esta a expressão globalizada por excelência. Nas ruas de N.Y, no banlieue parisiense, e lembro Wacquant falando do retorno do recalcado, nas inner city britânicas. Mesmo que as biografias destes jovens sejam virtuosas, sua inspiração de dança, vem de grupos juvenis estigmatizados e classificados como padecendo de tendências à delinqüência. Esta batida que aproxima funk, hip-hop e variações criativas será apresentada para rainha da Inglaterra, símbolo de uma nação-império. Esta é a cultura local que interessa, diria Bhabha, nascido na India, professor na Inglattera e nos EStados Unidos.
O híbrido, o deslocamento, a rachadura.
Como poderia uma cantora, tardiamente descoberta, interpretando um clássico, de forma tradicional, concorrer com o som das ruas? Este é o quadro de um multiculturalismo que entra na corrente sangüínea da industria pop. Não para tornar o mundo um lugar de "DIVERSIDADE" mas provavelmente para na medida do possível, antecipar as formas de diversidade possíveis. O que sendo paradoxal, não deixa de realizar-se.
Como reagirá a rainha diante destes jovens mestiços, filhos ou netos de súditos colonizados por seu império? Mantendo o protocolo frio que no século XX, era visto como sinônimo da mais alta distinção? Pensará ao se retirar para seus nobres aposentos, que seu tempo está chegando ao fim? Sentirá uma febre e um desejo de entregar-se as batidas ancestrais, mesmo que dezenas de milhares de tambores tenham sido queimados pela Inglaterra, assim como o fizeram também Espanha e outros impérios?
Não há como deter a dança das ruas. Mas isto não representa uma vitória triunfal. O triunfo não é da rainha, o triunfo maior não é do grupo Diversity, dançarinos adoráveis. O triunfo é do programa Britains Got Talent que com seu formato conservador no esquema "jurados, platéia e atrações de entretenimento", consegue criar celebridades, chanceladas por uma soberana poderosa e assim, ditar as regras da indústria de entretenimento.
Salve a Rainha!!! Não, não, esperemos: Salve Britains Got Talent, indicador preciso da decadência dos impérios.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para inverter o paradigma racial – e não apenas no Brasil.

Nesta manhã de junho após ler um ensaio crítico de meu amigo Francisco, sobre o desrespeito aos direitos humanos fundamentais na Vila do João, complexo da Maré, fui apanhar um pouco do sol matinal nas ruas do bairro. Acabei descobrindo uma rua nova, que ao contrário das outras tinha saída. A saída era exatamente ao lado de uma construção monumental localizada no bairro Riachuelo: O SENAI CETQTA de moda. Uma quadra que inicia na rua Cadete Polônia e se estende até minha rua na outra quadra. Com equipamentos ultra-modernos. Esta rua, cadete Polônia, dá acesso á uma favela local. Creio que a favela do rato, mas não importa o nome. Importa observar que em uma só rua, á possível perceber um grau mais visível de deterioração quanto aos cuidados urbanos. Sempre via carroças entrando por ali, assim como famílias levando colchões deixados para a Conlurb. . Assim como carros entrando em alta velocidade, completamente indevassáveis. Este quadro é o ponto da caracterização da topografia urbana da cidade do Rio de Janeiro. Acabaram de construir neste SENAI, um pequeno prédio envidraçado que gera curiosidade aos transeuntes. Vi nesta manhã, uma senhora negra, impecavelmente uniformizada, limpando as salas, como em um aquário. Pensei nas teorias evolucionistas e por alguma razão tola, tive este raciocínio: Mas quem deve evoluir deste ponto? As teorias que justificaram a escravidão e que seguem justificando políticas de Estado e discriminações de variados tipos, me parecem o indicativo mais eloqüente de que este paradigma deveria ser invertido. O processo civilizatório que firmou alguns padrões de comportamento, a partir dos quais sistematizamos parte de nossa cultura ocidental, carece disto que estou chamando de “inversão do paradigma”. A idéia não é nova. Tem sido trabalhada pelos estudos culturais, por Stuart Hall. Mas não exatamente com esta designação de “inversão”. Claro que uso a idéia de forma livre. Foi pensada nas ruas, está ainda bem fresca.

Gostaria de fechar este breve texto apresentando o conceito de cordialidade de Sérgio Buarque. Isto porque a normalidade destas relações tão desiguais me fez lembrar do problema da responsabilidade sobre o próprio destino. Penso isto não para um homem liberal, isolado, resumido primeiro a busca do lucro, depois do amor e por último da salvação eterna. Podemos inverter as duas últimas buscas. Mas não a primeira. Pensei nisto ao olhar a centralidade daquela instituição no bairro e como ali está, apartada da vida local. Como um enclave moderno em meio ao arcaico que impera no Brasil. A cordialidade, Na sociedade onde vive o homem cordial, diria ele no livro, cada indivíduo "afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas". O homem cordial, generoso e hospitaleiro no trato, é na verdade superficial, apegado às aparências. Abre flanco aos personalismos, segundo ele, um dos fundamentos da sociedade brasileira.

Sobre este último ponto ver http://www.unicamp.br/siarq/sbh/o_globo.html

quarta-feira, 3 de junho de 2009

um dia no Rio de Janeiro, Rap das Armas e Wagner

Hoje, interessada na atuação de Wagner Moura, depois de ver o medíocre filme Romance, resolvi rever cenas suas no cinema e no teatro. O filme Romance tenta ser inteligente, moderno, descolado. É pretensão demais para Globo Filmes. Tenta fazer uma crítica ao mundo da televisão, parodiando quem? A própria Rede Globo. Onde existiria tanta afetação para José Wilker no papel de um diretor canastrão? Bem, a Globo Filmes tem um objetivo que já está claro: fazer cinema de entretenimento para um público que gosta de novelas e tem interesse em enredos apenas 15% mais sofisticados, importando que o elenco tenha nomes do momento, desejados pelo público. E algum Marco Nanini para segurar e enganar quem pensa que pode existir cinema por lá.
Na busca acabei encontrando Wagner interpretando o Rap das Armas- cantado no filme Elite da Tropa. Ah... mas a favela rende tudo neste Rio de Janeiro... é como fruto do coqueiro, baixo teor de gordura e muito potássio. Pois bem, da tropa que se torna de elite para cumprir de forma igualmente elitista suas missões no morro, sai o filme que escrito por oficiais igualmente bem treinados, proporciona aos atores a oportunidade de sentir o cotidiano desta tropa. Nossa, mas a favela é mesmo como fruto do coqueiro, rendeu Urso de Ouro em Berlim. Sim, pois a preparação do filme também contou com ex-traficanete que é morador de favela, mas ao contrário dos oficiais, eles não aparecem em entrevistas. A favela que rende o Rap das armas - cantado por Wagner para parodiar uma novela das oito, rende ainda isto: estreladto e risos sobre uma base de funk.
Neste momento, os bailes nas favelas estão proibidos. Quem sabe se artistas como Wagner podem cantar o rap das Armas como forma de protesto? Seria uma gentil reciprocidade.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Grandeza, miséria do Brasil

Hoje, por volta das 19 horas, resolvi caminhar até o Engenho de Dentro, até um supermercado do bairro. Mesmo com o tempo nublado, resolvi contornar a avenida Lino Teixeira, passando por uma das entradas da favela do Jacaré. Este entorno é pouco iluminado, com alguns carros, uma pequena favela perto da entrada do túnel Noel Rosa e logo a frente, a favela Dois de Maio. Muitas mesas cheias na rua davam o tom de festa de sexta. Certa tensão no ar, reunião de motoristas de kombis e uma Upa no caminho. Crianças, mulheres, jovens com pequenos shorts; Lembrei por alguma razão de discuros sobre a pobreza e concluí: "mas é tão óbvio que estas pessoas não podem ser julgadas por viverem aqui ou pelo que fazem aqui". E tanto já se escreveu sobre isto... Mesmo assim, o discurso que afirma de maneiras diversas, que o pobre é pobre por que quer, segue presente nas justificativas de muitos. Faço a crítica, não apenas porque eu tenha uma formação humanista, não foi um pensamento cristão, nem religioso. Foi simplesmente um raciocínio ECONÔMICO. É estranho que bons amigos meus, acreditem após terem cursado ensino superior, que tratamos aqui de opção. Não é preciso ser de esquerda para compreender o óbvio que de tão solar, cega: estamos falando de concentração brutal de renda meus caros amigos. Qual o problema em simplesmente para r com a tese da culpa aos pobres? Qual o problema em encarar a histórica EXPROPRIAÇÃO feita em nosso país, sobre os negros, sobre os nordestinos? O que há de tão grave em reconhecer estas fatos?
Creio que a negação destas verdades é o que possibilita que se possa viver mais tranqüilamente, aceitando que a caridade é o limite das possibilidades alheias. Ou quem sabe dando algum tipo de justificativa sobre "vidas passadas". Ou quem sabe ainda, o que é mais comum, tomando-se como a principal medida do mérito que berra para o mundo "mas eu consegui"!E acusa tal qual juiz impiedoso todos os outros.
Que lamentável é ver esta gente mergulhada em uma ignorãncia típica dos piores tempos da idade média. Sim meus amigos, porque se quisermos dizer que a ciência, a racionalidade que tanto prezamos serve para algo, precisaremos abandonar estas justificativas obscurantistas.
Minutos depois de chegar em casa, o som das balas demarca a caída final da noite.
Ligo a televisão e resolvo escrever esta postagem porque em um destes acasos que dá corpo aos nossos argumentos, ouço " Chovendo na roseira" de Tom Jobim, Uma das composições mais fantásticas do mundo. É, do mundo todo, tanto quanto Miles Davis, Gardel, Bob Marley, Eric Clapton.... e oriente e Ásia, e o que não conheço. Uma composição arrebatadora porque traduz em melodia o ritmo rápido, suspenso no ar de um beija-flor, traduz a chuva, o amor que se perde entre as gotas de chuva, as manhâs que celebramos. Chovendo na Roseira deveria ser música obrigatória no ensino fundamental para que as crinças possam entender a grandeza de um país.
Para que elas possam voar sobre a miséria que as explora em propagandas, internet, trabalho, violências.
Mostrem aos seus filhos a letra de Chovendo na Roseira, para que possam entender o quanto é ilusória a crença de que vivemos em um país pobre. Não somos pobres e nunca fomos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

revista Caros Amigos sobre cidade do Rio de Janeiro

CHOQUE DE CAPITALISMO NAS RUAS DO RIO LEMBRA A DITADURA

A nova administração municipal aumentou a repressão sobre os desempregados, subempregados, camelôs e trabalhadores pobres em geral.

Por Marcelo Salles


Se você está desempregado no Rio de Janeiro, cuidado. Se você não tem onde morar, redobre a atenção. Você está na mira do Choque de Ordem. Apesar de a Prefeitura negar, durante a apuração desta reportagem ficou claro que a repressão empreendida pela nova administração está voltada essencialmente contra as parcelas mais pobres do povo. Não foram poucos os relatos que ouvi de agressões contra camelôs e pessoas em situação de rua, sendo que o mais chocante foi narrado pelo defensor público Alexandre Mendes. Quando pergunto sobre denúncias de agressão física, ele diz:

“Isso eu posso falar porque presenciei, pois acompanhei e assinei o boletim de ocorrência. Houve uma agressão estúpida da Guarda Municipal. Uma senhora de 60 anos, de muleta, foi derrubada no chão e usaram sua própria muleta para agredi-la. Por pedir que não fizessem isso, um menino negro tomou uma banda e várias cacetadas e também outras duas pessoas acabaram apanhando. Foi uma ação de extrema violência”, lembra Alexandre, do Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Ele explica que o Núcleo de Direitos Humanos está acompanhando denúncias de agressão e o de Fazenda Pública está acompanhando denúncias de roubo de mercadoria.

O Choque de Ordem, conjunto de ações coordenadas pela Prefeitura, mas com apoio das polícias e da iniciativa privada, teve início logo na primeira semana de janeiro. E não tem data para terminar. “Apesar de muitos terem uma dimensão de que choque é algo passageiro, acho que choque não é algo passageiro, choque é algo intenso. A prefeitura vai permanecer com essa intensidade, vai fazer valer as posturas e a lei municipal, porque não há outro caminho para a cidade do Rio de Janeiro”, explica Rodrigo Bethlen, o chefe da Secretaria de Ordem Pública, especialmente criada para comandar as ações. De acordo com os números oficiais, até março foram abordadas 5.076 pessoas, mais de duzentos mil automóveis foram multados ou rebocados e cerca de 180 mil produtos diversos foram recolhidos. Cerca de oitenta construções populares foram destruídas.

Bethlen, ex-vereador pelo PFL e homem de confiança do prefeito Eduardo Paes, me recebeu na sexta-feira, dia 17 de abril, no sétimo andar do gigantesco prédio da Prefeitura, que fica no centro da cidade. Fui prontamente atendido e todas as perguntas foram respondidas com desembaraço; trata-se, sem dúvida, de um grande quadro da direita fluminense. O secretário de Ordem Pública tem a pele branca, cabelo preto liso, barba bem feita e gesticula muito enquanto fala. Ele defende, para a Guarda Municipal, o uso de armas não letais (ou menos letais, segundo fabricantes) como os tasers – aparelhos que disparam projéteis eletrificados. É contra o uso de armas convencionais pelos guardas e acredita que o Rio de Janeiro deve se espelhar em cidades como Nova York, Chicago, Bogotá e Medellín. “A hora que você combate o pequeno delito você deixa absolutamente caracterizado que o poder público vai estar presente permanentemente combatendo essas transgressões”.

O secretário mais badalado pelas corporações da mídia fluminense afirmou que o Choque de Ordem não é seletivo. Ele citou três episódios em que as ações foram direcionadas contra gente rica: a demolição de um restaurante na Gávea, de uma casa na Barra e do prédio conhecido como Minhocão, na favela da Rocinha. “Pra mim lei vale pra todo mundo, tanto pra mim quanto para o prefeito Eduardo
Paes. Se a lei não for respeitada por todo mundo, nosso choque não tem validade”.

terça-feira, 26 de maio de 2009

sessão " Entenda sua cidade"

Lendo escritos do passado achei um de minha chegada ao Rio onde anotava como nota metodológica de trabalho de campo
" è preciso diferenciar:
Policia Policia
Policia bandido
bandido bandido
bandido formado"
São muitas as diferencições necessárias para viver na cidade....
Weber dizia que o ar da cidade liberta.

Fica a reflexão sobre o ar da cidade...

domingo, 24 de maio de 2009

Tropas de elite, de proteção e neonazismo

Peço desculpas pelo péssimo acabamento que apresentarei neste texto. Pretendia escrevê-lo amanhã. Mas o ritmo dos fatos faz com que eu registre algumas linhas hoje. Iniciando: a questão do papel do "guarda" do " subordinado" do " fuincionário que cumpre ordens" tem ocupado um espaço central nos debates sobre Alemanha e Tropas como a SS. Tema abordado no filme O Leitor -que me fez lembrar desta dicussão sobre responsabilidade, opção e consciência. Não vou desenolver estes pontos aqui. Talvez eu dedique um programa de estudos para pensar isto. O fato é que quando abro o Jornal de domingo, o preparador físico do Bope -Rio de Janeiro, posa e dá entrevista como se sua atividade fosse não só naturalizada mas também elevada à uma condição glamourosa. Este é o termo para abordar o que envolve esta força policial desde o filme. Os subprodutos deste filme, estão dentro de grandes coorporações, seminários motivacionais liderados pelos caverias, pagos muito bem por paletras sobre resistência, comando, decisão. Tenho a impressão de que se ignora a questão- MAS AFINAL DE CONTAS, QUAL O OBJETIVO FIM DA TROPA?
Desta forma, o discurso da guerra necessária, inevitável e instaurada nas entranhas da sociedade cariioca, justifica "a missão". E rende filmes, livros, peças de teatro. palestras, status.
No Paraná, um grupo neonazista é preso, delatando o envolvimento de políticos nacionais. E conexões com Chile e Argentina.
Seria possível afirmar que são fenômenos sem conexão se levarmos em conta como as representações sobre bandidos, negros, pobres em geral, parecem confundir-se em discursos oficiais? E não raras vezes, nas explicações dadas por moradores de subúrbio, bairros nobres e populares, favelas, etc... no cotidiano?
O Estado condena com ardor o neonazismo, como expressão de um comportamento inaceitável. O EStado, mídias e empresas, premiam batalhões especiais pelas habilidades técnicas de seus homens de ferro.
A Universidade - e acompanho de perto este fato, não me libero da responsabilidade- certifica algusn destes como hábeis também na capacidade reflexiva - o Estado investe nesta formação.
Mas qual o objetivo de neonazistas e policiais de forças especiais? Mudam os métodos? Talvez, mas não é o aspecto mais importante. Mudam os alvos? Não, são pobres, negros, homossexuais. Ambos partilham de alguns alvos em comum. O que há de diferente então?
O que há de diferente, creio eu, é a chancela do Estado em relação aos batalhões especiais. Necessários à qualquer Estado Democrático de Direito que precise apresentar garantias em segurança pública á população.