terça-feira, 27 de outubro de 2009

O último diálogo


"Então é isto", perguntou ela com um ar de espanto.
- Sim isto é tudo que tenho a dizer sobre sua pesquisa.
Retirado aquele autor, sustentanto este outro, cinco anos depois.
O congelamento do que poderia ter se constituído como a produção de uma pesquisa.
Um dia, meses depois lendo materiais sobre a biografia daquele pensador, uma idéia antiga ficou clara:
"Certo, não era possível ir além sem pagar os tributos".
"Certo, não era possível ir além sem apreciar aquela perpectiva de laboratório".
Se poderiam tantos outros demonstrar engajamento nas idéias do mestre, por que ele iria perder tempo com as utopias dos "jovens esquerdistas"?
E era isto.
Chicago não era Madureira,
Mas A Rocinha e o Harlem...
Tanto esforço para legitimar obras sem relevência,
para conservar forças em franca decadência....
Os nervos se enrijeciam,
mas isto era tudo.

DEFENDA-SE

sábado, 10 de outubro de 2009

ALTERIDADE


Quando os conceitos aparecem desencarnados de suas conseqüências concretas na vida cotidiana dos cidadãos, a filosofia política torna-se mistificação. O artigo a favor da permanência no Haiti, vejam na Folha, ocupa-se de pensar o Brasil no quadro interncional e sua caderia no Conselho de Segurança da Ouu. Estas defesas sobre "o papel do Brasil no cenário interncional" inflam vaidades levianas e complicam a longo prazo uma percepção da aliança política com diretrizes norte-americanas (o que teria alto custo político).
Para defender a noção de "não indiferença" seria preciso agregar uma discussão sobre ALTERIDADE e perguntar se os haitianos têm interesse neste tipo de solidariedade específico que sob o manto de reconstrução, usa de violência, violação de mulheres e repressão seguida de morte aos manifestantes. Como força de paz, esta coalisão é garantidora de que ordem?
O paradoxo dos conceitos e suas implicações aparece mais que escancarado na eleição para Nobel da Paz de um presidente que tem no Afeganistão mais de 70 mil soldados e que em 11 de setembro de 2008 registrava a morte de 4.100 pessoas.
A discussão sobre alteridade é central para quem está pensando cenários deste tipo

Brasileiros, "go home!"

TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil deve renovar o comando da missão de paz no Haiti?

NÃO

Brasileiros, "go home!"

SERGIO KALILI e SANDRA QUINTELA

NESTE MÊS , a jovem mãe de 20 e poucos anos Esterlin Marie Carmelle, solitária em seu cubículo em Cité Soleil, uma das maiores favelas de Porto Príncipe, capital do Haiti, deveria se lembrar de Jean-Jacques Dessalines, um ex-escravo que liderou, em outubro de 1802, a guerra para a expulsão dos colonizadores franceses da ilha. Dessaline, logo depois, em 1804, proclamou a independência do país.
O Haiti se tornou assim a primeira nação latino-americana livre, a primeira do mundo liderada por negros (no período colonial) e a única a ganhar a independência por meio de uma rebelião de escravos.
Mas Carmelle e seus vizinhos hoje não pensam em comemorar a luta de Dessaline. Neste mês, mais do que nunca, ela tem em mente a presença incômoda de soldados brasileiros da Minustah, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti.
No dia 15, contra a sua vontade, o Conselho de Segurança da ONU deve renovar o mandato de permanência da Minustah em seu país.
Carmelle tem a marca dessa missão de estabilização sob comando militar brasileiro. Durante uma das muitas operações do Exército em apoio à polícia violenta do Haiti em Cité Soleil, Carmelle perdeu o filho de dois anos, atingido na cabeça dentro de casa, enquanto dormia abraçado com ela.
Mais de 20 países participam da missão, entre eles, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai. Desde o início, em 2004, as tropas são acusadas de cometer massacres, assassinatos, estupros e outras violações, sobretudo contra a população mais pobre. Em novembro de 2007, o Sri Lanka deixou a missão depois que 108 de seus soldados foram acusados de abusar sexualmente de mulheres e crianças.
Ao apoiar as ações da polícia e do governo, integrantes da Minustah acabam por facilitar a repressão a opositores, líderes comunitários e movimentos sociais.
A bala que matou o filho de Carmelle talvez tivesse outro endereço. Nos bairros pobres e miseráveis, vivem ou viviam muitos dos seguidores do ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, expulso do país em 2004, após outra intervenção americana.
Gerhard Latortue, representante dos militares, de ultradireita, assumiu o poder com apoio americano.
Tropas da ONU substituíram os marines no país, após a aprovação da Minustah pelo Conselho de Segurança. Nos primeiros anos da missão, a violência foi intensa. Em fins de agosto de 2004, duas pessoas foram mortas próximas a Cité Soleil. Em 30 de setembro, dez manifestantes foram executados. Na madrugada de 6 de julho de 2005, 300 soldados, sobretudo brasileiros, mataram mais de 60 haitianos nos bairros pobres de Cité Soleil e Bois Neuf.
Em 2006, apesar da repressão e das fraudes, o candidato apoiado por Aristide, René Préval, elegeu-se presidente. Mas, com a Minustah, Préval acabou com poderes limitados.
Cinco anos de Minustah, e o Haiti continua o país mais pobre do Ocidente. Ocupa o 153º lugar no IDH da ONU, com 80% da população abaixo da linha da pobreza e 80% do povo desempregado. Poucos são os programas sociais e os recursos destinados ao povo. Do orçamento da missão, 85% vai para militares e a polícia civil.
A Minustah garante a estabilidade para a implantação de projetos econômicos que agradam mais aos países vizinhos e à elite doméstica do que ao povo. No ano em que foi eleito, Préval iniciou privatizações de portos, aeroportos, dos sistemas de telefone e saúde. Dezoito zonas de livre comércio surgiram para transnacionais, como as têxteis americanas.
Além da miséria, a violência continua. Manifestações são reprimidas e operações violentas se repetem em bairros pobres. Recentemente, soldados da Minustah foram acusados de matar mais um jovem durante uma manifestação.
Por tudo isso, haitianos tem protestado diante do quartel general da ONU, em Porto Príncipe, para pedir aos membros da missão que voltem para casa.


SERGIO KALILI , jornalista e documentarista, é pesquisador da ONG Justiça Global.
SANDRA QUINTELA , economista, é membro da coordenação continental da Rede Jubileu Sul.

sábado, 3 de outubro de 2009

FALTA DE SENTIDO


O problema não são os conflitos - afetivos, profissionais, acadêmicos- o problema é o que de subterrâneo está em muitas destas interações. Creio que esta á a razão de muita insegurança, de muito tensão e descontrole.
As vezes, algumas relações se transformam em falas sem sentido carregadas de desencontro. Sentimos a morte anunciada do que vivemos mas não temos as possibilidades psíquicas e materiais de libertação,
As vezes sabemos que em uma discussão acadêmica todos estão tão armados de medição, inveja, insegurança, que se fosse possível fotografar o não visto, a foto seria pantanosa. Servimos como dispositivo dos processos psíquivos alheios. E em relações de poder, acabamos servindo como móvel das projeções e frustrações de nossos superiores.
Destas doenças participamos ativamente e as vezes nos engajamos nas patologias, ativamente nos vemos acusando, temendo, desgostando, desrespeitando,
e por fim, perdidos, longe de qualquer sentido possível para elevar estas interações a algo que possa permanecer quando tivermos passado.

Vocês não sabem nada de nós

Frases da Semana
Após assalto no Arpoador, grupo registra fotos e sentencia
"Nós sabemos onde vocês moram, vocês não sabem nada de nós!"
Atenção para a segunda parte "Vocês não sabem nada de nós" - a literalidade do emprego deste não saber nada (onde moram, o que fazem, onde circulam, etc....) pode bem dar lugar à uma interpretação simbólica, "vocês nunca souberam nada de nós", mesmo quando servimos em suas casas, em suas camas e aos caprichos vários de seus consumos.
Na mesma semana outdoors de comemoração das unidades pacificadoras nas favelas cariocas
Os órgãos de segurança pública apontam uma correlação entre o aumento do roubo a residências e o sufocamento do tráfico nas favelas.
O fato é que assaltos na zona sul e grande Tijuca estampam jornais das últimas semanas.
Beltrame pretende treinar porteiros, para que não se "deixem enganar" por falsos entregadores de gás, medidores de luz, etc....
Pobres porteiros, terão de entrar na realização de segurança pública e em muitos casos serão vistos como suspeitos.