quarta-feira, 30 de junho de 2010

SENHORAS DE SENHORES

Senhoras de senhores

No mesmo quarto, outras choraram,

Antes de 1960 e depois

Dispostas sob uma lua que favorecia a percepção das tragédias

Confinamento em alguns metros

Perto da área de serviço

Um corpo negro sob um teto baixo

E eram milhares pela cidade

Que não sabiam dos sabores dos queijos

Sabiam do peso dos cavalos

E demais animais de seu mundo reduzido.

Subindo pelas escadas dia após dia,

Cumprimentavam homens e crianças

Que obrigações eram estas,

Que as traziam apenas as névoas do dia?

Que diziam nas salas, senhores inflamados de aguardente?

Que sorte era aquela

Senhores de escravos

Senhoras de senhores

Escravas de apartamento

De senhores

E milhões de dias depois,

Esposas de senhores

No mesmo quarto onde outras choraram.

Mesmo a lua repete seus avisos,

Não há quem possa desconhecer as tragédias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário