terça-feira, 29 de junho de 2010

DIALÉTICA DA FAMÍLIA


Lendo dois textos deste livro e especilamente o caso de uma menina esquizofrência é impossível não fazer comparações com nossa família, nossa socialização e nossos conflitos e momentos decisivos. Filha de pais muito jovens, creio que introjetei com intensidade os valores transmitidos. Não escrevo isto de forma gratuíta para falar de ética e bons costumes. Ao envelhecer percebo initidamente meus gestos. E as vezes balanço os braços na velocidade exata em que meu pai também o faz. Sei que olho o espaço da casa como faria minha mãe e por vezes, este é mesmo um conflito (comum as mulheres de minha geração). A separação entre família normal e patológica me fez lembrar de uma família de classe média com a qual convivi por anos. Diria que da pré-adolescência até a fase adulta. Vivi aceita como uma espécie de "afilhada engraçada" para as meninas, eram 3 irmãs. A família, bastante estabilizada economicamente, tinha exatamente esta figura do pai: um engenheiro, de uma multinacional italiana, provedor. Uma casa com uma grande geladeira, sempre cheia, televisões, telefones, carros, aquários, espaços muito amplos, limpos, iluminados, casa na praia. O interessante é que havia algum ruído na interação entre os membors da família. Ressentimentos e críticas latentes, uma mãe que passava as tardes tomando água tônica, comendo batatas chips e ao telefone. Filhas bem encaminhadas e um pai visivelmente saturado por contas, insatisfações e problemas no almoço de domingo (um dos pratos inesquecíveis de domingo: macarrão com frango, milho e ovos). Os anos passaram com intensificação das contradições. Em um dos fatos marcantes, fui cúmplice em uma mentira: uma das filhas teria um encontro íntimo com seu primeiro namorado. Tudo foi descoberto e a família (incluindo tios, avós, sobrinhos, etc...) desnudou a filha que perdera a moral de confiável. Havia comparação entre as filhas. Uma bebia demais, uma era correta, a mais jovem era artista e tinha mais liberdade para ser singular. Mas não havendo casamento, não havia bençâo dos pais. Assim, uma família pode aceitar que sua filha se case com um indivíduo que conta piadas homofóbicas e tem como projeto de vida, levar 10 anos para terminar uma faculdade. Sonho dos meninos de 40 anos? Fórmula 1. Realização? kart todo sábado. Não importa que se reproduzam violências de tipos variados.
Em um dia de verão, simplesmente o pai em uma discussão desferiu um tapa (muito inesperado e nada fácil de entender) no rosto de sua filha mais velha. Estranho, crescemos em uma época onde algumas surras eram parte da "educação". Eu sabia disto. Mas nunca saiu de minha cabeça aquele caso.
Anos depois, soube por um ex-namorado de uma das meninas, que as surras existiam, que não era exatamente o que eu via.
Uma família que vivia tentando assegurar os melhores postos para suas filhas. E que poderia ver nos amigos, concorrentes em potencial ou companhias não desejáveis.
E assim pessoas se afastam, amizades acabam.
Onde está a patologia?
Mais de 7 anos depois, fiquei sabendo por um colega de faculdade que trabalhava na mesma empresa, que o provedor, admirado na família por seu posto e remuneração, era na verdade, ridicularizado pelos colegas de trabalho, chamado de tio por não modernizar seus métodos. Ou seja, um profissional medíocre, que estava no mesmo lugar durante anos.Prestes a ser demitido Mas na infância, parecia grande com posses, aquários, uma grande casa e uma moral familiar rígida.

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