domingo, 23 de agosto de 2009

Maridos, esposas, relações e modernidade

As questões de que tanto trata Woddy Allen em seus filmes, especificamente para esta discussão o filme Maridos e Esposas, é tipicamente moderna (e alguns dirão burguesa). O ideal da realização profissional e de um casamento onde existam quase todos os itens modernos:companheirismo, trocas, romance, sensualidade, fidelidade, admiração, projeto de vida.... creio que estão dão conta do que preciso para explicar o problema. No caso dos casas que podem praticar as liberdades modernas (renda e formação são poderosos liberadores para mulheres e homens), as dificuldades de ajustamento só aumentam. Assim como o número de pessoas que passam a fazer análise. Não é uma crítica ao ato de fazer análise, mas a generalidade do problema, o transforma em um fato social- e foi por isto que resolvi escrever.
o ângulo de onde abordarei a questão tem relação com a emancipação feminina: consciência dos desejos não satisfeitos, da desigual divisão de tarefas, do processo de deterioração da intimidade, do problema em relação á criação dos filhos, do problema para realização do projeto pessoal. Como resolver isto com análise? Lá pelas tantas, alguma indicação de rompimento. Vinda de um amigo, de um conselheiro, do desejo de viver outra situação afetiva.
O rompimento implica em: 1) mudança de residência, portanto erosão patrimonial, 2) rompimento com um círculo onde podemos estar encaixados - em metrópoles onde existe muita dificuldade para refazer amigos (moro no Rio há 4 anos e devo ter no máximo 4 ou 5 pessoas mais próximas), 3) a dificuldade para preencher o espaço com todos os atributos listados lá em cima, projeto, intimidade, romance, etc....
Por esta razão, podemos viver uma vida " desacoplada" (inspiração em Giddens, certo?). Explico: podemos crescer ao lado do outro, que se constitui na base de apoio para desafios: como são os concursos todos, os medos, as neuroses. E viver uma relação afetiva estacionária se analisada do ponto de vista da intimidade. Mesmo no mais moderno mundo, os papéis não se alteram facilmente, os discursos se reproduzem. As mulheres são qualificadas como " detalhistas, exigentes, neuróticas", os homens são " desleixados, relaxados, egoístas". cada um vê o outro por estas lentes - que não são lá, a 'lente do amor".
As transformações na intimidade (Giddens novamente, confesso que não li todo o livro), colocam a urgência da resolução - nada pode ser adiado por muito tempo. Não há como perder anos da vida esperando que os filhos cresçam, que o marido ' pare de beber", que o encontro sexual melhore. Tudo tem de ser agora. Não há doação? Mas não houve um modelo de sociedade onde a doação era a base das relações? Espero que não vejam aqui, uma observação que possa ser taxada como "típica das feministas".
Quero enfatizar a questão do ajustamento e das relações estacionárias. Creio que o desajuste nas relações produz um número inédito de rupturas. O lema " antes mal acompanhada do que só" tem um apelo inegável. Mas também perde força diante da escolha pela solidão feita por tantas mulheres.
A escolha entre "ajustar-se" a um corpo sem vibrato, que deixou-se engordar pelos anos de convivência e lançar-se em aventuras na busca de um colorido-movimento, estão aí.... não sei se parte dos homens são capazes de usar seu tempo para pensar a respeito. Creio que existe uma barreira cognitiva nisto - já que fazê-lo implicaria em rever a própria atuação. A própria incapacidade de "doar-se" ao mesmo para satisfazer o outro. Muitos casais se reconhecerão no que digo: é a distância que media a convivência. Durante 3, 4 ou 7 anos. Mortifificando o cotidiano, gerando contínua irritabilidade, inveja de moças e moços de folhetins, fantasias e é claro, enriquecendo os analistas e os farmacêuticos, as academias, clínicas de cirurgia plástica, lojas de bolsas e sorvetes. Alguns sabem que estão insatisfeitos, outros recalcam isto e passam a manifestar um comportamento obssessivo em outras questões: futebol, carreira, política partidária, direitos humanos, enfim.... os na criação dos filhos.
Os que sabem, explodem, berram, gritam, querem resolver a questão. Os outros, podem atravessar melhor suas crises, e até encontrar sentido na casamento como instituição de produção de segurança. Não falo isto de forma crítica. O rompimento produz um desgaste tão meteórico que as vezes, é melhor manter tudo em seu lugar, dando vazão ás fantasias, pequenas traições, etc....
Não pensem que duvido das potencialidades do amor moderno, como fruto do legado dos trovadores medievais, este que tem romantismos de todo o tipo e encontros sensuais transformadores. Tudo que escrevi não exclui esta possibilidade, que aliás também se realiza com freqüência justamente porque a coragem de romper, fortalece a coragem de amar. Creio que romper pode ser até mesmo um ato de respeito ao próximo, já que não é novidade que uma interação ruim não produz necessariamente, outra relação ruim. Claro que é desolador ver aquele ou aquela que deixamos florescer nas mãos de outrem: " mas comigo ele nunca fez isto", "como ele se curou da impotência", "ela passou a se vestir melhor", " veja, ela terminou a faculdade".
As relações conjugais, em minha humilde opinião, são as maiores forças de movimentação psico-espiritual a partir de determinada fase da vida. Passamos pelos piores pesadelos e pelos maiores deleites, nos medimos, nos humilhamos, somos capazes de crueldades. Ou seja, podemos conhecer a profundidade de algo que chamam de “alma”. Esta é a relacão social mais próxima com alguém que não tem nosso sangue. Daí que estes são dramas modernos inescapáveis....

Nenhum comentário:

Postar um comentário