quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para inverter o paradigma racial – e não apenas no Brasil.

Nesta manhã de junho após ler um ensaio crítico de meu amigo Francisco, sobre o desrespeito aos direitos humanos fundamentais na Vila do João, complexo da Maré, fui apanhar um pouco do sol matinal nas ruas do bairro. Acabei descobrindo uma rua nova, que ao contrário das outras tinha saída. A saída era exatamente ao lado de uma construção monumental localizada no bairro Riachuelo: O SENAI CETQTA de moda. Uma quadra que inicia na rua Cadete Polônia e se estende até minha rua na outra quadra. Com equipamentos ultra-modernos. Esta rua, cadete Polônia, dá acesso á uma favela local. Creio que a favela do rato, mas não importa o nome. Importa observar que em uma só rua, á possível perceber um grau mais visível de deterioração quanto aos cuidados urbanos. Sempre via carroças entrando por ali, assim como famílias levando colchões deixados para a Conlurb. . Assim como carros entrando em alta velocidade, completamente indevassáveis. Este quadro é o ponto da caracterização da topografia urbana da cidade do Rio de Janeiro. Acabaram de construir neste SENAI, um pequeno prédio envidraçado que gera curiosidade aos transeuntes. Vi nesta manhã, uma senhora negra, impecavelmente uniformizada, limpando as salas, como em um aquário. Pensei nas teorias evolucionistas e por alguma razão tola, tive este raciocínio: Mas quem deve evoluir deste ponto? As teorias que justificaram a escravidão e que seguem justificando políticas de Estado e discriminações de variados tipos, me parecem o indicativo mais eloqüente de que este paradigma deveria ser invertido. O processo civilizatório que firmou alguns padrões de comportamento, a partir dos quais sistematizamos parte de nossa cultura ocidental, carece disto que estou chamando de “inversão do paradigma”. A idéia não é nova. Tem sido trabalhada pelos estudos culturais, por Stuart Hall. Mas não exatamente com esta designação de “inversão”. Claro que uso a idéia de forma livre. Foi pensada nas ruas, está ainda bem fresca.

Gostaria de fechar este breve texto apresentando o conceito de cordialidade de Sérgio Buarque. Isto porque a normalidade destas relações tão desiguais me fez lembrar do problema da responsabilidade sobre o próprio destino. Penso isto não para um homem liberal, isolado, resumido primeiro a busca do lucro, depois do amor e por último da salvação eterna. Podemos inverter as duas últimas buscas. Mas não a primeira. Pensei nisto ao olhar a centralidade daquela instituição no bairro e como ali está, apartada da vida local. Como um enclave moderno em meio ao arcaico que impera no Brasil. A cordialidade, Na sociedade onde vive o homem cordial, diria ele no livro, cada indivíduo "afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas". O homem cordial, generoso e hospitaleiro no trato, é na verdade superficial, apegado às aparências. Abre flanco aos personalismos, segundo ele, um dos fundamentos da sociedade brasileira.

Sobre este último ponto ver http://www.unicamp.br/siarq/sbh/o_globo.html

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