domingo, 7 de junho de 2009

Dança de rua para rainha da Inglaterra

Se aparentemente a postagem de hoje passa longe do que miro como objeto de pesquisa, basta olhar os componentes do grupo vencedor do Britains Got Talent e ficará simples entender. Dançarinos "de rua" fazendo uma mélange de Michael Jackson, de temas das Olimpíadas, de batidas clássicas dos anos 80... Uma coreografia, que mistura street dance com rápidas esquetes. Paródias de filmes de 007 ou Superman. Tudo dentro de um gosto pop, carregado de movimentos bem executados. Não há genialidade, não há exatamente um elemento conceitual na dança. Mas ainda assim, nos primeiros momentos, ela nos arrasta. Ali estão plasmadas virtudes adoráveis do show business: meninos talentosos, alegres, vivazes. Apresentando releituras "modernas", com doses precisas de ousadia. Nada de muito crítico. Um verdadeiro espetáculo, como conceituaria Gui Debord. O interessante além disto, é que o resultado vai confirmando uma tendência: a rua, multicultural, globalizada, "impura" e acima de tudo, ritmada. É esta a expressão globalizada por excelência. Nas ruas de N.Y, no banlieue parisiense, e lembro Wacquant falando do retorno do recalcado, nas inner city britânicas. Mesmo que as biografias destes jovens sejam virtuosas, sua inspiração de dança, vem de grupos juvenis estigmatizados e classificados como padecendo de tendências à delinqüência. Esta batida que aproxima funk, hip-hop e variações criativas será apresentada para rainha da Inglaterra, símbolo de uma nação-império. Esta é a cultura local que interessa, diria Bhabha, nascido na India, professor na Inglattera e nos EStados Unidos.
O híbrido, o deslocamento, a rachadura.
Como poderia uma cantora, tardiamente descoberta, interpretando um clássico, de forma tradicional, concorrer com o som das ruas? Este é o quadro de um multiculturalismo que entra na corrente sangüínea da industria pop. Não para tornar o mundo um lugar de "DIVERSIDADE" mas provavelmente para na medida do possível, antecipar as formas de diversidade possíveis. O que sendo paradoxal, não deixa de realizar-se.
Como reagirá a rainha diante destes jovens mestiços, filhos ou netos de súditos colonizados por seu império? Mantendo o protocolo frio que no século XX, era visto como sinônimo da mais alta distinção? Pensará ao se retirar para seus nobres aposentos, que seu tempo está chegando ao fim? Sentirá uma febre e um desejo de entregar-se as batidas ancestrais, mesmo que dezenas de milhares de tambores tenham sido queimados pela Inglaterra, assim como o fizeram também Espanha e outros impérios?
Não há como deter a dança das ruas. Mas isto não representa uma vitória triunfal. O triunfo não é da rainha, o triunfo maior não é do grupo Diversity, dançarinos adoráveis. O triunfo é do programa Britains Got Talent que com seu formato conservador no esquema "jurados, platéia e atrações de entretenimento", consegue criar celebridades, chanceladas por uma soberana poderosa e assim, ditar as regras da indústria de entretenimento.
Salve a Rainha!!! Não, não, esperemos: Salve Britains Got Talent, indicador preciso da decadência dos impérios.

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